ESCRITOS HELÊNICOS - PÃO DOS NETOS




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  • Pão dos netos

    ”De repente (e como dizia Vinícius de Morais)... e não mais que de repente” de cabelos despenteados, roupas desarrumadas, olhos negros e arregalados de contentamento ou molequice, suor saindo dos poros, correndo sala e cozinha adentro, sorrisos à venda, vem me abraçando, já gritando e quase me derrubando. Eu tinha que rir também. Neto é outra coisa.

    - Bença vó, bença vô, onde tá pão de mandioca?

    - Calma, meus etos, onde vocês estavam? Ih! Parem de me abraçar. Já estou no chão, seus pestinhas!

    Minha filha e genro, cheios de sorrisos se aproximavam e ratificavam o pedido de seus filhos.

    - Ei, sogrinha, ei,  sogrão, também queremos pãozinho de mandioca.

    Faziam coro com  os meninos, sete e nove anos, dirigindo-se ao fogão, depois ao móvel onde se guardavam as quitandas.

    - Esperem! Vocês querem pão de mandioca ou mágica? Se desejam pão de mandioca vão ter que me ajudar a fazer agora! E ainda, vou lhes dar a receita para seus pais fazerem em sua casa e pro meu amigo Vicente, lá do Exsecordis também .Aliás ele está se tornando hábil cozinheiro; Há poucos dias fez uma torta.

    - Que é ez..ordis....sei lá, vô?!

    - Ah! São amigos de minha juventude!  Nem vou explicar! E agora, filha, genro e Cidinha podem ir passear pelo jardim, que eu e meus netos vamos fazer o que eles desejam: Pão de mandioca!

    Os netos não esconderam sua alegria e foram lavaras mãos.

    - Vamos lá fora arrancar uma boa mandioca. De preferência aquelas amarelas, meus netos.

    - Rafael e Lucas acompanharam o avô e com uma boa enxada os três dirigiram-se à pequena plantação.

    - Sacode o pé, Rafael!

    O engraçadinho começou a sacudir o pé direito, morrendo de rir.

    - O pé de mandioca, “Ô pedaço de bambu”!

    Após brincadeiras, a enxada retirou a terra e as primeiras raízes “mandiocais” apareceram.

    -Ei, vovô! Essa está muiiiito bonita!

    Levamos para a cozinha, espaçosa, local também de confraternização e o

    melhor lugar da casa.

    - Pois bem! Prestem atenção! Quero a ajuda de vocês para irem aprendendo o que é tradição em minha família, há mais de cinco mil anos!

    - Que é tradição, vô? É quando o pãozinho está pronto?

    - Primeiro, vamos cozinhar a mandioca para depois moê-la. (Pausa para eu saber se o Vicente está aprendendo).

    - São três xícaras de mandioca cozida.

    - Me dá um pedacinho dela, minha barriga ta roncando. – Pediu Lucas.

    A farra pedagógico-culinária continuava e logo depois, a voz rouquenha do vovô:

    -Três xícaras de polvilho.  Meça para mim, Rafael! E agora, Lucas, jogue tudo aqui, na mandioca cozida e moída

    - Calma, gente! Vá ao armário, traga o queijo canastra. O que estiver mais curado. Ralem três (3) xícaras.

    - Ô vô, se a gente ralar as xícaras, elas não estragam?

    E os pentelhos riam satisfeitos, com a aprovação do avô.

    - Vamos! Ralem o queijo! Três (3) xícaras. Se não fizerem isso, não tem pão de mandioca.

    É pra já! – gritaram os dois.

    - Agora, três (3) colheres de sopa de óleo. Busque lá, Lucas! Está no

    armário, perto da pia. Pronto! Agora, preciso de três (3) ovos, sal e leite.

    - Ainda bem que tem muito leite em casa, né,vovô?

    - É! Mas se não houver, pode colocar água mesmo.

    - Não! Queremos com leite.

    - Agora, gente, mãos à obra! E só amassar, assar ou então fritar.

    Algum tempo depois, a sala da cozinha cheirava e o perfume do pão de mandioca exalava ambiente adentro.

    - Esperem esfriar, esfomeados!

    Depois, toalha sobre a mesa, café fresquinho, leite, suco de laranja, guaraná ....

    - Vô! Vamos mudar o nome deste pão? De hoje em diante vai se chamar “ bolo dos netos”.

    -  Kkkkkkkkk E assim ficou...até hoje.

    Heleno Célio Soares