ESCRITOS HELÊNICOS - TORTA E CIÚME




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  • TORTA E CIÚME

     

    Tô precisando de ovos, leite, sal, queijo ralado, meia cura viu? Farinha de

    trigo, pó Royal, cebola, alho, cheiro verde, tomate, frango, palmito...

    - O quê? Pra quê? Eu não tô a fim de ir pra cozinha não, Heleno! Afinal, amanhã é sexta-feira, tenho que ir ao salão fazer unha, cabelo... A empregada não veio, quero almoçar num restaurante, e assim, num quero nem saber de trabalho hoje. E amanhã, vou ficar dormindo e você toma seu café na padaria e ainda traz para mim! Tá falado?

    - Fica calma, Cidinha! Você sabe que eu sou um “expert”, um “chef” de primeira grandeza. Vou fazer a torta salgada pra levar para minhas amigas lá do ...

    - Nem continue! Amigas? Amigas? Não acredito! “Agora que você está “velhinho”  fica com esta cara, tão habitual e este risinho torto aí de lado, falando que vai fazer “ tortinha” para suas “amigas” ?

    - Calminha! Calminha! Amanhã é sexta-feira e vamos comemorar o aniversário do Hércules e ...

    - Hércules? Aquele... Aquele... Moreno alto, forte, bonito... Que esteve em nossa casa lá na Lagoa? E que a Níres convidou para ir a um festão na igreja dela? E que você, porque está velhinho, não foi convidado. Ele é bonito... E você... Ah! Meu Deus!

    - Bonito... Umas “pinóias” A esposa dele casou-se com ele de dó!

    - Não seja ciumento, Heleno! Aposto que você tem ciúme dele. Tá! Já que é pra ele... Pode fazer. Você mesmo, viu? Não me peça ajuda!

    - Cidinha! Comemora-se também o aniversário dos ou das que nasceram durante este mês. Da Gezinha, da Sandrinha, da Lucinha...

    - Pode parar com este negócio de “ Inha... zinha “. Lá vem também Telminha... Não tem?

    Ambos rimos muito. Muito.

    Comprei os ingredientes sob o olhar invejoso da Cidinha e voltei para casa com algumas marcas de beliscões no braço. No fundo, no fundo, tinha eu lá meu sorriso helênico e furtivo, esboçado escondidamente pelo bigode e barba que começo a cultivar, já pensando no Natal e nos meus netos.

    O relógio despertou às cinco horas da manhã de sexta-feira.

    - Já vai se levantar, seu Heleninho?

    - É vou fazer a “tortinha”! (E já temendo novos beliscões).

    - Pois para mim você não se levanta tão cedo. Não estou gostando disso: Gezinha, Lucinha, Telminha, Sandrinha!

    - Epa! Tem o Hércules também!

    Virou o travesseiro de astronauta para um lado e dormiu.  Pensei: -Mulheres... Para que entendê-las? Basta amá-las.

    Tomei meu banho. O chuveiro estava queimado. Água fria. Ufa! Busquei as luvas de plástico fino, não só por higiene, mas também para não ficar depois com cheiro nas mãos. Mãos à obra! Desci a escada e fui para a cozinha, para o fogão, antes para a mezinha ao lado onde preparo os ingredientes.  E eis que ouço a voz:

    - Não faça bagunça aí, viu? Não faça barulho para os vizinhos! Você é muito desajeitado. Quer ajuda? ( Já com remorso ) kkkkkk

    - Fique descansando! Vou deixar um pedaço da torta para você!

    - Pra mim não! Você disse que era para a Gezinha, para a Sandrinha, para a... Então...

    Comecei a rir baixinho. Se risse alto, poderia apanhar.

    Botei a máscara no rosto. Viu como sou cuidadoso e seguro na assepsia?

    Pronto! Vamos lá!

    .4 ovos inteiros no liquidificador.

    .2 xícaras de chá de leite.

    .1 colher (chá) de sal.

    .12 colheres de farinha de trigo.

    .1 colher (sopa) de pó Royal.

    .3 colheres de sopa de queijo minas, meia cura ralado.

    Olha só, queridos (as) aprendizes da culinária helênica. A massa fica gostosamente líquida. Aí você vai despejá-la num tabuleiro untando-o. Agora, recheio às colheradas.  Vai devagar! Sinta o prazer de colocar a colher no recheio e depois trazê-la ao tabuleiro. Ah! Espere! Faça um refogado, usando cebola ralada. Em seguida, alho, cheiro verde, tomates (sem sementes) picados em tubinhos, frango desfiado. Pode colocar também palmito.

    Finalmente, depois de colocado o recheio na massa, levar ao forno pré-aquecido. Assar mais ou menos por 20 minutos.

    Agora... É só levar para “as amigas”. Antes... Vou deixar um pedaço para a Cidinha.

    Heleno Célio Soares