FELIX SCRIPTA - RECEITAS E LEMBRANÇAS




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                                  Receitas e Lembranças

     

     Quando sento-me a escrever, vem-me a indecisão do escolher, seria melhor não a ter, mas se a tenho, o que fazer?

     

     Ferve-me o cérebro em instigada confusão , mergulho-me no passado sem nenhuma intenção, testemunha do privilégio que é viver, penso ser honra não merecida  relatar liminar  e minimamente o que outros viveram e o que com eles convivi.

     

     Relatar memórias, trabalho mais que literário, é oportunidade de vestir e desvestir minhas próprias veleidades.

     

    O que na atualidade passada parecia absoluta verdade, hoje aflora à mente sem essa magnitude, o tempo relativiza , corta arestas, desgasta, burila os fatos e nos deixa a vontade para o livre pensar, só pensar.

     

    O arroz rei,

    Nem carne o lugar lhe tomava

    Feijão e milho o cortejavam.

     

    O milho ia ao moinho

    E voltava fubá

    Como angu e broa

    Ao paladar se ajustava.

     

    O gosto ao sabor do saber

    O simples de todo dia

    Cotidiano maravilha.

     

    A carne era iguaria

    E como tal

    Nem sempre tinha.

     

    O alho dourado na banha

     

     

     

     

     

     

    Rescendia pela casa

    E nossa alma tomava.

     

    Cebola crua cortada fina

    Feijão quente em cima

    Eu gostava quando menino.

     

    A alface nunca crua

    Depois do sal

    Vinha quente gordura.

     

    Sopa de banana verde.

    Por que não ?

    Ninguém pedia explicação.

     

    Guisado de folha de batata doce

    Era artimanha da cozinheira

    Que também era a mãe.

     

    O trigo era caro e raro

    O parente da cidade quando vinha

    Trazia imenso pão com carinho.

     

    Pão de metro

    Ou pão de quilo

    Como gostoso era!

     

    Galinhas eram para por ovos

    Só iam para a panela

    As que já não os tinham.

     

    Leite não era coisa de todo dia

    Tinha que encomendar

    Em geral para fazer quitandas

    Para idosos, doentes ou criancinhas.

     

    O soro que sobrava do queijo

    Vinha da casa de Dona Albina e Zé Pemão

    Uma parte minha mãe fervia

    Como se fosse leite a gente bebia

    A outra na massa da broa

    Fazia diferenciação.

     

    Não era um mundo de Lavoisier

    Mas estava em transformação.

     

    Fubá suado é fácil de fazer

    Fubá uma quantia que dê

    Sobre ele uma pitada de sal

    Ainda seco bem misturado com as mãos

    Água respingada de novo revirado

    Panela no fogo um pouco de gordura

    A tampa em cima faz suar a mistura.

     

    Geraldo Felix Lima