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    Allucinações

     

    Pássaros quânticos

    pastam ervas daninhas

    em meu quintal.

    Alhures pássaros refletivos

    distribuem pesadas cargas

    de bem e de mal.

    Aos que as recebem

    sobra apenas desgraça,

    pois ainda não comeram

    da maçã do paraíso,

    estão cegos por isto.

    No céu escuro

    não há  aviso

    de quando  o bem

    de quando  o mal

    que vem.

    O bem quer vencer o mal,

    o mal  vencer o bem.

    No fogo cruzado todos são reféns

    os batizados e os pagãos também.

     

    O progresso é apenas

    um entreolho.

    Busca-se a terceira visão,

    mas não se avisou a ninguém.

    Por isto donos de dois olhos

    debatem-se na cegueira,

    o que não lhes convém.

    Ao final restam mortos

    os do mal e os do bem.

     

    A guerra é tão eterna

    quanto Deus o é.

    Tudo começou no paraíso

    na primeira tentativa de tomada de poder.

    A beleza quis botar mesa

    e se esqueceu da sutileza

    de que a força não lhe era companheira,

    apenas o orgulho e a presunção

    eram seus peões,

    as torres e os bispos não estando

    a seu serviço

    restou a beleza

    a expulsão sem aviso.

     

    Migalhas desatam o sabor

    mas engendram a fome,

    assim, dor sem nome

    corrói o estômago

    dos pobres deste mundo.

    Alucinações telúricas

    de queda e ascenção

    baqueiam-lhes o coração.

    A maior produção do progresso

    não por acaso, é de refugiados;

    entre nós  os sem teto,

    os sem terra, os sem casa,

    os com razão, os sem juízo,

    os que não têm vergonha

    de pleitear o paraíso.

    Geraldo Felix Lima