• PALAVRA

    Amigos! Toda palavra é lenta, grave, poderosa, feiticeira; espanta, causab alegria, recordação. Também fingida; expressa, de alguma maneira, a sua exclamação. É construção, divide, agrupa. É arte, acumula, patenteia nossos íntimos desejos, empolga. E tão imprevisível... É satisfação. É fé, é verdade, produz efeitos surpreendentes num processo admirável, e original.

    Força singular de ideias, quando se pode unir o colorido poético ao pensamento. A palavra tem sentidos. Paladar, audição, tato, cheiro e visão.

    Ela transcende, não custa nada quando preenche coisas boas do coração.

    Falo isso porque acredito. Mas hoje... Logo hoje... Não consigo fazer

    poesia. Tentei. Nada! Nada! Vou lhes confessar...

     

    Hoje, tentei, mas não consegui

    Nada escrever...

    (Até agora)!

    Nem prosa, nem poesia.

    Minha mente teima.

    Mas parece soterrada.

     

     

    Não gera nada.

    É qual caravela,

    No mar abandonada.

    Nem sente leve vento,

    Nem levante marrom, verde ou azul.

     

     

    Mas eu preciso escrever!

    Não sinto Ritmo,

    Nem imagino aForma

    Aparecerem diante de meus olhos.

    Quero, com força grave,

    Descobrir sinais

    Até presença de signos.

    Mas... Nada!

    Não consigo hoje escrever!

    Não consigo apascentar palavras,

    Coerentemente.

     

     

    Elas estão qual boiada

    Em disparada.

    Desabrocham vazias

    E caem fora de mim.

    Hoje não consigo escrever.

    E isso dói

    Dentro de mim.

    As  palavras têm necessidade de viajar.Estão preás, enfim.

    Elas teimam

    Em andar como caracóis,

    E depois se escondem dentro de se mesmas,

    Como se não quisessem se libertar

    Idiotas!

     

     

    Não respondem, hoje, ao meu canto.

    Estão acordadas, eu sei!

    Mas nnão despertam vontade de se expressarem.

    Hoje não consigo escrever.

    Há um silêncio total

    E lá fora, a festa se inclina

    .Aqui, nem sinal de poesia.

     

     

    Inclino-me,Inexoravelmente,

    Sobre mim mesmo,

    Sobre meu dorso,

    E como num casulo,

    Fecho-me,

    Na quietude inquieta,

    De quem, hoje,

    Não consegue escrever.

     

                           Heleno Célio Soares