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Falemos
Falemos para desabafar o quanto estamos entalados,
garganta seca de tanto guardar tudo que nos chega
pelos ouvidos , pelos olhos, pelo tato e pelos sonhos,
bisonhos sonhos de querer o melhor
e ter que aceitar o menos ruim e o pior.
Falemos com pausa, sem registro,
porque não se sabe se a geladeira ou a televisão
já vieram conectadas ao agora estranho e novo
grande irmão.
Falemos para dentro, internalizando os pensamentos,
nem pronunciemos o nome dos substantivos abstratos :
liberdade, autoridade, inteligência, magnificência...
Falemos, mas as coisas de nossa casa, nosso lar
estão preparadas para contra nós testemunhar.
Cuidado , podemos ser contraditados pelos móveis,
acusados pelos eletroeletrônicos, enforcados pelos cabos telefônicos.
Dizer : “Eu te amo”, nos primeiros beijos, sem certificação de origem
de quem nos beije, pode ser mais perigoso que abrir a porta para um ladrão.
Se o atordoamento, a tristeza, a angústia crescerem muito,
não fale, grite para fora, como o estrondo de um trovão,
gesticule, erga as mãos , pronuncie-se com palavras, palavrinhas e palavrões.
Caso venham pedidos de explicação, de des-diga,de retratações,
ainda assim você sentirá fluir o cérebro, a alma e o coração.
Geraldo Felix Lima
09/03/2021
