FELIX SCRIPTA - AS DIMENSÕES DO QUERER




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  • AS DIMENSÕES DO QUERER

     

    Quero a flor para mim

    e para todos quero

    a flor para mim

    antes de querer a flor

    para todos.

     

    Quero bom salário para mim

    e para  todos quero

    bom salário para mim

    antes de querer bom salário

    para todos.

     

    Quero boa casa para mim

    e para todos quero

    boa casa para mim

    antes de querer boa casa

    para todos.

     

    Quero a boa vida para mim

    e para todos quero

    a boa vida para mim

    antes de querer a boa vida

    para todos.

     

    Quero para todos

    mas primeiro para mim.

    Não se deve nivelar por baixo.

    Como vamos produzir riquezas

    se todos forem pobres ?

    Pode um mendigo ajudar a

    um pobre ?

     

    Quero ser rico para

    ajudar aos pobres.

    Que incoerência há em

    ser rico ?

    Nenhuma há,

    ou há ?

     

    Quero ser grande para

    ajudar aos pequenos,

    que incoerência há em

    ser grande ?

    Nenhuma há,

    ou há ?

     

    Quero ser patrão para

    ajudar aos empregados,

    que incoerência há em

    ser patrão ?

    Nenhuma há,

    Ou há ?

     

    É tudo tão perfeito, tão

    acabado, tão harmônico

    em nossa sociedade :

    há o criminoso e a polícia

    há o padre e o fiel

    o coronel e o soldado

    o verdugo e o condenado

    o patrão e o empregado

    a mãe e o filho

    o trem-de-ferro e o trilho.

     

    É tudo tão harmônico,

    tão complementar,

    que fazemos hoje

    uma sociedade exemplar,

    a polícia não deve condescender,

    o ladrão não deve deixar de roubar

    o soldado de marchar

    o coronel de mandar

    o padre de rezar

    o empregado de trabalhar

    o filho de obedecer

    a mãe de ralhar

    o trem de andar sobre os trilhos.

     

    É preciso preservar esta ordem

    tão justa, tão madura, tão divina.

    Primeiro para todos

    depois para mim.

    Eu não sou todos.

    Eu penso “para todos.”

    No “para todos”, não me incluo.

    Quero hoje, agora.

    Amanhã, uma pátria socialista,

    muita liberdade, muita paz,

    muito pão,

    depois que eu estiver morto,

    podre, apodrecido ?

     

    Quero o paraíso hoje,

    sobre a Terra hoje,

    no Brasil hoje,

    amanhã ?

    “Amanhã o carneiro perde a lã”. (1)

     

     

    (1)- ditado popular.                   

     

    10/01/80.    Geraldo Felix Lima