• Panos de Presépio

     

     Os afazeres cotidianos da sobrevida

    Não nos deixavam tempo.

    Buscar o necessário era preciso para

    Fazer brilhar a maravilha do Natal :

    o presépio.

    Era uma necessidade de vida.

    Tornar a aniagem ou alinhagem como chamávamos,

    Um tecido tão tosco

    em  roupagem brilhante para a Mangedoura de Belém,

    grande responsabilidade.

    Onde buscar aquelas pedras pretas reluzentes

    e tritura-las para fazer as grutas,

    os panos de presépio?

     

    Pouco se sabia onde encontrar.

    Daqui, dali, acolá...

    Minha mãe conseguia

    em algum lugar, algum material.

    Tomara que não chova  - se expressava.

     

    Aniagens ou “alinhagens” estendidas no terreiro

    recebiam sobre si o grude quente,

    cola de polvilho azedo com limão galego.

    Uma respiração aliviada por ter conseguido até aí,

    agora era moer, esmerilar, pulverizar aquela pedra preta brilhosa.

    Pronto o preparo , todos nós soprávamos, peneirávamos sobre o grude

    aquela matéria fina, quase divina , minúsculas estrelas se espalhando sobre o pano.

    agora esperar o secar,  belas ficarão pela tarde.

     

    Prontas, secas, brilhantes, refulgentes,

    Cobriam os caixotes, cadeiras, tamborete

    O presépio quase pronto,

    minha mãe cansada,

    olhos brilhando de alegria.

    Ali estava um belo presépio

    Cantaríamos e rezaríamos no Natal.

    O Menino Deus na manjedoura

    Coberto com um paninho

    Esperando a hora vindoura do nascimento.

    Deus feito nós , conosco irmanado.

    Geraldo Felix Lima