NATAL - CIRANDA DE AMOR ( MAURO PASSOS)




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  •  NATAL – CIRANDA DE AMOR

     

    Entre o suave silêncio, entremeado

    de festas e encontro, um arco-íris

    percorria a curva do céu.

    (Bartolomeu Campos Queirós)

     

    Natal – fazer circular o sagrado nas entranhas da terra. Reconfigurar o mundo e seus pertences. O céu e a terra caminham no corpo de Maria e José: “A minha alma engrandece o Senhor” (Lucas 1, 47), cantou a Virgem seduzida pelo recado do anjo. Mistério e encanto povoam a terra numa ciranda de amor. E o Menino (re)encantou a criação e iluminou o futuro.

    O Natal confirma que o céu e a terra andam de mãos dadas, como um arco-íris.  Deus e suas criaturas são inseparáveis. Pessoas e povos, culturas e religiões não podem mais ficar distantes. Tudo e todos estão juntos, lado a lado, assim como é sagrada a unidade de todo o Universo, sob o som de um mistério de delicadeza e cooperação. O Deus de Jesus é o “Pai nosso”. Estamos escritos na palma de sua mão.

    De ora em diante, quem se quer bem, quem se faz bem, quem se ama e ama, “acarinha” Deus em seu coração e o faz infinitamente feliz, na convivência, respeito e amor ao Outro. Ao diferente. O lugar do nascimento e do encontro com Deus é no cotidiano da vida. Aí está a vida – diligência de busca e vigília de espera. Continente com muitas ilhas. A celebração do Natal ensina que não há nada que nos distancia de Deus. Ressoa a promessa: “Estou comprometido, divinamente, com todos. Olhai as flores no campo e as estrelas do firmamento. Vejo-vos como filhos. Agora, sois também divinos. Meus herdeiros”. É preciso olhar longe para equilibrar o que está no cotidiano.

     

    O Natal rabisca uma mensagem cósmica no Universo: “Vós que andais curvados sob tão pesadas cargas, lembrai: há em vós uma marca divina. Pertenceis a Deus e nada vos pode separar de seu amor. Confiai!” O sentido da vida é deixar-se envolver num amor que faz partilha e frui para “crescer de todo lado.”

     

    Na indigência, nasce um Menino – ensaio de globalidade, brado no silêncio, renovação da história “na curva da terra e do céu”. Integrado com a vida, sonha reconstruir a beleza do mundo. Já dizia Guimarães Rosa; “Com o nascimento desse menino, o mundo tornou a começar”! O Natal consagra o real humanismo no exercício de uma cidadania completa, integradora, libertadora.

     

    A religião é o cultivo de valores para transformação da vida. Para alcançar o horizonte do sagrado, é necessário olhar longe e quebrar as aparentes certezas. Construir com fé e coragem discretas esperanças. Um momento com tão baixa taxa de humanidade carece de outra agenda no tempo e no espaço! De ousadia e esperança é o futuro.

     

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    Prof. Mauro Passos

    Presidente do Cehila (Centro de Estudos de História da Igreja/do Cristianismo na América Latina)