• SAUDADE

    Num momento qualquer

    no mundo além do mundo

    o que já foi deste

    e agora é daquele

    se estremece de sentimento

    já conhecido e se confunde :

     

    Sempre pensara que

    a morte a saudade

    anulava

    e vê com terror

    que a morte

    não anula nada.

     

    Nada pelo menos da saudade.

    Como pode Deus

    com sua verdade,

    poder e onipotência

    não usar inventividade e ciência

    tornando menos dolorosa

    essa eterna existência ?

     

    Ter tido dói muito mais

    do que nunca ter !

    Ter amado muito mais

    do que nunca  amar !

    Perder dói muito mais

    do que nunca possuir!

     

    E essa saudade,

    mesquinha por certo,

    toma conta do espírito :

    Saudade de pão e água.

    Saudade de uma  humana mágoa.

    Saudade de um prazer sujo  e menos puro,

    mais matéria e menos alma ...

     

    Saudade,

    Sentimento  que não acaba.

    Se lá,

    temos  saudade de cá.

    Se cá,

    temos saudade de lá.

     

     

    Saudade não termina

    porque é boa sina

    a gente ter saudade.

    Sentimento que dói e alucina,

    também reanima

    e acende em nós

    vontade de chorar

    até  lágrima rolar,

    molhando o peito

    e com todo direito

    conforto a gente achar.

     

    Saudade,

    vai  acabar

    quando  este

    ao outro  se ajuntar

    em  um só mundo,

    de todos e para todos.

    Quando  dor

    e  morte se extinguirem,

    o mundo do mal destruído.

     

    Ou o homem,

    ser tão pequeno,

    que às vezes destila veneno,

    num erro hormonal

    terá saudade do mal ?

     

    Geraldo Felix Lima

                                                                                       17/9/1982