• Despertar

     

    Sol na cara, Lua inda no céu

    Siriemas em canto ritmado

    Sabiás adoçando os ouvidos

    Beija-flores trilando alto

    Na disputa pelo néctar .

     

    A Cambaxirra ou Garricha

    No seu ritmo miúdo e constante

    Faz-me verossimilhança

    Com a perseverança.

    Não cansa, não desiste, insiste.

     

    O João –de-Barro aparece

    Andando descuidado

    Afundando o bico no chão molhado

    O objetivo não é o barro

    É a minhoca, seu belo regalo.

     

    Os tucanos, belos predadores

    Inocentes aparentes

    Com seu troclear ressoante

    Faz as “Verdadeiras”

    Se encolherem nos ninhos

    Receosas por seus filhos e seus ovos.

     

    Gaviões aparecem, dois, três, quatro

    Numa organizada quadrilha de assalto.

    De postos de observação

    Escolhem ou os distraídos ou os mais fracos .

    Distração tira a força da atenção.

    A fraqueza é compensada

    Pela ousadia dos pequenos

    Com seu chilrear corajoso

    E as dezenas, centenas de bicadas.

     

    Os predadores animais

    Tal  como  predadores humanos

    Preferem  fracos,  desatentos,

    Desavisados  , filhotes , desdentados

    Ganhando a vida sem esforço e sem dor

    Mas sem nunca usar o amor.

     

    Vamos ouvir por fim

    O conjunto musical dessa trama matinal

    Assanhaços, Bem-te-vis, Sabiás, Cambaxirras.

    Tucanos tenores, Gaviões ora no baixo, ora no soprano,

    Os Beija-Flores policromáticos nos seus voôs acrobáticos.

    Geraldo Felix Lima