FELIX SCRIPTA - DESISTINDO DA SORTE




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  • Desistindo da Sorte

     

    De que ponto observar o universo ?

    Sentado à luneta ?

    Comendo o menu pronto da tevê ?

    Cotovelos à janela ?

    Lendo os diários repetitivos

    Praticando o esporte favorito

    Comendo arroz com ovo frito

    Discutindo as políticas

    Sonhando com o bom e o bonito

    Jogando para ficar rico ?

     

    Todos os dias tenho boas intenções

    Sempre vou me corrigir

    Serei mais cordial

    Serei um cara legal

    Vou participar, vou estudar

    Vou me organizar

    Serei mais pontual

    Serei mais eficaz

    Serei mais amigo

    Serei mais marido

    O dia é pequeno

    Para tanta mudança

    O ano é pequeno

    Para tanto futuro

    A vida é curta

    Para tanto tempo

    Esmoreço e relaxo

    As coisas se acumulam

    Os planos empoeirados

    Vão fazendo pilhas

    No meu cérebro.

    Só o coração bate,

    O ego apanha, acanhado

    Acabrunhado, apanha

    E se cala e se furta

    À crítica mais comezinha.

     

    Devo observar o mundo

    Ou viver o mundo no mundo,

    Pés no chão ?

    A luneta me mostra o inalcançável

    A tevê é meu fast-food intelectual

    Da janela vejo pouco ou nada.

    Até os diários se empilham dobrados

    Esportes, ah ! Esportes,

    Muito bom seria praticar.

    Arroz com ovo frito,

    Ovo eleva o colesterol.

    Discutir ? Políticas ?

    Meu Deus, que besteirol !

    Sonhar ? Os sonhos secaram.

    Jogar para ficar rico?

    Ser rico dá muito trabalho.

    É melhor não jogar.

     

     

    Para se observar o universo

    É sempre bom tomar distância

    Uma tentativa de  vê-lo  todo

    Pois o universo é muito grande

    E eu sou pequeno grão de areia.

    Distância material, impossível,

    A mim resta a distância

    Intelectual, crítica.

    Tenho que me distanciar de mim

    Dos meus pequenos interesses

    Das minhas pequenas pressas

    Das minhas infantis promessas

    Para entender meu dia-a-dia,

    A noite e a manhã.

    Entender as razões dos outros.

    Eu devo esquecer meu dicionário.

    Meu discricionário, meus atavios.

    Meus parcos delírios.

    Minhas dores, martírios.

    Intenções e desejos.

    Devo jogar fora

    O meu talismã.

     Geraldo Felix Lima