TEMPO DE DISCERNIMENTO E OBEDIÊNCIA - DOM ALBERTO TAVEIRA CORRÊA ARCEBISPO METROPOLITANO DE BELÉM/PARÁ




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  • TEMPO DE DISCERNIMENTO E OBEDIÊNCIA

     

    Após a Ressurreição e Ascensão de Jesus e a descida do Espírito Santo, no  Pentecostes, começou a maravilhosa aventura da Igreja, chamada por Deus e  atuar como sal, luz e fermento na sociedade. Os Atos dos Apóstolos retratam a  vida das primeiras Comunidades, com os percalços havidos no confronto com os  costumes, legislação e prática religiosa existentes na Palestina daquele tempo.  Depois, especialmente através do ministério de Paulo, ampliaram-se os horizontes  e os problemas afloraram. Tratava-se do ambiente helênico e romano, com  hábitos e cultura diferentes. Trata-se de adequar-se a cada ambiente, sem perder  a originalidade da graça do cristianismo, tarefa que acompanha a Igreja no correr  dos séculos. 

    Já na Sagrada Escritura e na História da Igreja, o Espírito Santo abriu  sempre as portas para o reconhecimento sincero das faltas existentes nas  pessoas, sabedores que somos da santidade da Igreja, malgrado os nossos   pessoais, comunitários e sociais. De fato, ela é santa, pois “Cristo  também amou a Igreja e se entregou por ela, a fim de santificar pela palavra  aquela que ele purifica pelo banho da água. Pois ele quis apresentá-la a si mesmo  toda bela, sem mancha nem ruga ou qualquer reparo, mas santa e sem defeito”  (Ef 5,26-27). Os pecados são nossos, e o Senhor quer deles purificar-nos. A Igreja  é santa, mas feita de pecadores, que somos nós! Se assim não fosse e a Igreja  tivesse sido criada como uma associação de pessoas, até interessadas no  Evangelho, não teria subsistido! 

    O confronto da Igreja nascente com os poderes religiosos e políticos então  reinantes nos trouxe uma magnífica experiência, cujos reflexos podem  multiplicar-se também hoje, com edificantes consequências. “Os guardas levaram  os apóstolos e os apresentaram ao Sinédrio. O sumo sacerdote começou a  interrogá-los: ‘Não vos proibimos expressamente de ensinar nesse nome? Apesar  disso, enchestes a cidade de Jerusalém com a vossa doutrina. E ainda quereis  nos responsabilizar pela morte desse homem!’ Então Pedro e os outros apóstolos  responderam: ‘É preciso obedecer a Deus antes que aos homens. O Deus de  nossos pais suscitou Jesus, a quem vós matastes, pregando-o numa cruz. Deus,  porém, por seu poder, o exaltou, tornando-o Chefe e Salvador, para propiciar a  Israel a conversão e o perdão dos seus pecados. E disso somos testemunhas, nós  e o Espírito Santo, que Deus concedeu àqueles que lhe obedecem’. Quando  ouviram isto, ficaram furiosos e queriam matá-los” (At 5,27-33).    Nós fomos criados por Deus e a ele devemos dar contas de nossa  caminhada nesta terra e das decisões que tomamos. Antes de sermos membros  de qualquer sociedade organizada nesta terra, temos uma dignidade fundante de  nossa existência, e esta vem de Deus e seu plano infinito de amor, com o qual  quer que vivamos nesta terra e numa eternidade feliz. Passa na frente do Estado  ou dos Governos a liberdade religiosa e o dever de respeitar as pessoas, em suas  decisões de consciência. Por isso, sistemas sociais e políticos vieram à tona e  depois se esvaíram, mas a Igreja, com todos os limites dos homens e mulheres  que a compõem, permanece firme estável, solidamente alicerçada na Rocha que  é Cristo. Um dos sinais mais impressionantes da solidez da Igreja é o ministério  de Pedro e seus sucessores, chamados a proclamar que se deve obedecer antes a  Deus do que aos homens. E é um verdadeiro milagre que percorre a história o  fato de o Espírito Santo ter sempre alguém misteriosamente preparado para ser  Papa. 

    Independentemente da idade, nacionalidade, formação ou cultura, impressiona fortemente a nós e ao mundo a fidelidade dos que são responsáveis  pela eleição de um Papa, como estamos vivendo agora, ao acolherem e a ele  fazerem plena unidade e prestarem obediência, sabendo que sua palavra e  ministério confirmam os irmãos, segundo a promessa do Senhor: “Eu, porém, orei  por ti, para que tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, confirma os teus  irmãos” (Lc 22,32).

    Para obedecer antes a Deus do que aos homens, faz parte da vida da Igreja  o discernimento, com o qual se buscam fontes seguras: a Palavra da Escritura,  as inspirações de Deus acolhidas com serenidade na oração e o conselho dos  irmãos e irmãs. Daí o respeito que nos cabe ter diante de realidades tão sérias,  com que a Igreja busca o discernimento dos passos a serem dados no anúncio do Evangelho. 

    E a Igreja vive a sua missão num mundo pluralista e desafiador, quanto às  convicções religiosas, políticas e culturais, devendo responder com espírito de  humildade, aliado à grande paixão pela verdade, que é Jesus Cristo. Sabemos  que os próximos dias serão também de grandes provocações a um testemunho  fiel do Evangelho sobre toda a Igreja, vindas das mais diversificadas correntes de pensamento e opinião, pelo que confiamos na fervorosa oração de todo o Povo de  Deus, para que sejamos mais fiéis a Deus do que aos homens (cf. At 2,27-33).  Rezemos muito pela realização do Conclave, sabendo que Deus tem preparado  aquele que só ele sabe e, estamos convictos, será o Papa para este tempo, pois  Deus não abandona a sua Igreja. A certeza vem do Evangelho: “Eu te digo: tu és  Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as forças do Inferno não  poderão vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na  terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos  céus” (Mt 16,18-19).

    No entanto, não só no governo da Igreja faz-se necessário obedecer antes a  Deus do que aos homens. O discernimento há de acompanhar os jovens em suas  opções de vida, o matrimônio nas decisões sobre os filhos e a educação dos  mesmos, os homens e mulheres que têm responsabilidades na vida pública nas  escolhas e na execução das políticas públicas!

    O Espírito Santo nos conceda o mesmo ardor e a coragem das primeiras  comunidades cristãs, para sermos sinais de Deus para o nosso tempo e o nosso  mundo. Maria, Mãe da Igreja e Rainha dos Apóstolos, interceda por nós!

     

    DOM ALBERTO TAVEIRA CORRÊA

    ARCEBISPO METROPOLITANO DE BELÉM/PARÁ

    FONTE: www.arquidiocesebelem.org.br