ESCRITOS HELÊNICOS - PISCA-PISCA E KACULÉ. QUAL É O MAIS BELO?




Clique aqui para ampliar

Clique aqui para ampliar
  •  SILVÉRIO , HELENO (PISCA-PISCA)- HERMELINO (KAKULÉ), TIÃO COLEGA

     

    Ei, Kaculé! Seu telefonema fez-me soltar da gaiola o pássaro por tanto tempo preso. A questão do BELO. Voltei a pensar sobre isso. Vou sempre internalizando cada palavra que ouço, cada estalido, por mais leve que seja e busco seu signo linguístico. Vou emprestando luzes às palavras.

    Agora me lembro do girondino que diz: “ L’art ne fait que des vers, le coeur seul est poète”.

    Vamos dialogar sobre o Belo e ver, sentir a correspondência entre ele e as disposições psicológicas de quem o contempla.

     

    Ambiente: Sala de estar e eu recostado, assistindo a novela “Novo Mundo, bem antes do Repórter Nacional. Coisa de aposentado, o que nunca o fizera, pois trabalhava nos três turnos. O dia?  Três de agosto de 2020 , segunda-feira... e bem fria.

     

    - Triiimmmm.... triiiimmmmm

    - Pois não! Quem é?

    - É o filósofo. E uma risada grave do lado de lá!

    - O quê? Quem é? – Só poderia ser alguém brincando!

    - Fomos colegas lá no Conventão!

    _ Huuum! Quem?

    - É o Hermelino...Kaculé!

    - Com voz de macho, cara!

    - Eh! A gente vai ficando velho e fica mais homem... A voz também fica de homem!

    Xi! Que lambada eu levei! Observem, caros leitores, duas palavras pronunciadas: “velho e homem”. Agora, no sentido de “ experiência e dignidade”. Que porretada eu levei. Até me lembrei do que meu pai me dizia quando eu era muito jovem: “Malditas as palavras  mal ditas”. Ou “Benditas as palavras não ditas”.

    - Puxa – já me arrumando no sofá e mudando a entonação. - Que alegria ouvi-lo, Hermelino! Alegria mesmo!

    - Pois é! Quero lhe perguntar algo. Você, em seu artigo “Arte-Finalidade” (já publicado neste site), diz que Platão afirmava que “a arte é a procura do Belo”...

    - Sim! Ele disse que é através da Arte que se representa adequadamente o Belo.

    Vamos falar sobre isso, Heleno?

    - Por telefone é difícil. Acho que dá um bom debate, pois você é melhor filósofo do que eu, tem mais competências e também a sensibilidade tão necessária para um bom filósofo.

    - Deixa disso e me envie o que você já escreveu sobre o tema: O BELO!

    - Vamos lá! Pra início de conversa, você representou claramente o BELO ao me telefonar.

    - Por quê?

    - Porque fiquei feliz em ser lembrado. E a beleza está também na felicidade.

    - Então, Heleno, o BELO é subjetivo?

    É sim! E é cultural. Está ligado ao tempo, momento, ao seu estado emocional, a seu gene e... assim caminha a humanidade. (risos).

    - Agora, passo-lhe algumas considerações sobre o BELO. Não é para concordar comigo, é claro, e você o sabe...  É para confundir mesmo.

    - Mande por e-mail. Vou esperar, mas envie por parte, porque você fala muito e escreve mais ainda. Vai falar nos raios que o partam.

    - O BELOI, Kaculé, é objeto da Estética, entendendo Estética como a ciência da sensibilidade. Foi nesse sentido que  Kant, na “Crítica da Razão Pura” lhe deu por objeto o estudo da sensibilidade e das formas puras do pensamento.

    - Xi, Heleno, parece que entramos no oficio dos psicólogos.

    - Por que não? O BELO é para todos. Você mesmo não disse que há muito de subjetivismo aí? Podemos aliar o subjetivismo ao útil, ao agradável, à ciência... Olha só, Hermelino! Você me faz lembrar Baumgarten (+ ou – 1750), que entende a estética como uma ciência psicológica, limitando seus confins pelas balizas do BELO subjetivo, que é o que produz em nós em virtude da impressão causada pelos objetos dos nossos sentidos.

    - Então deixa eu  ver se entendi! Para Baungarten, “Estética” é a ciência do perfeito uso da sensação (daí o subjetivismo) e, evidentemente, a “Lógica” é a ciência do perfeito uso do intelecto.

    - Eureka! Caro amigo! É ótimo conversar com um intelectual como você. É muito difícil dizer em que consiste o BELO. Senti-lo, todos nós o sentimos de maneiras diversas. Definir sua idéia, é-nos sobremaneira embaraçoso. Em meu texto ”Arte-Finalidade” dou um toque no BELO quando o relaciono à minha poesia.

    - Pelo que observo, Heleno, o estudo a que devemos sujeitar o BELO deve começar pela análise dos seus efeitos sobre cada um de nós. É isso.

    - Dois efeitos se produzem em nós na contemplação do BELO. Experimentamos uma emoção (sentimento estético); Reconhecemos o BELO ( Juízo estético).

    - Pisca-Pisca! Vejo uma dificuldade em explanar esses dois  efeitos do BELO. Como resolvo essa dificuldade?

    - Enquanto alguns estetas afirmam que a causa do sentimento estético reside em certos caracteres ontológicos do BELO, outros, por sua vez, asseguram que ela está nas disposições psicológicas de quem contempla o BELO

    - Se eu concordar com você, estarei então dizendo que não há verdade na alternativa a que você se refere.

    - Huuumm! Bem dizia nosso amigo Miranda, lá também do conventão, e que não sei por onde anda! “Cabeça de coco, kaculé”. A resposta seria o seguinte: O que é a verdade?

    - Espere, Pisca-Pisca! Agora você me fez rir de meu apelido que recebi lá no Conventão e trouxe ao mesmo tempo uma saudade grande do Miranda!

    - Continuando minha explanação, quero que entenda o que falo, até para assustá-lo. Dia 8 de agosto, numa terça-feira, houve uma explosão no Líbano, Beirute. Todos acompanharam pela televisão, e por diversas vezes, esta explosão. Foi Belo!

    - O quê? Horrível, Heleno! E sem mais comentários. Feridos... Mortos... Incêndios... Destruição... Isso não é belo, meu amigo!

    -Olha só! Belo, com B maiúsculo e belo com B minúsculo. Há diferença, não há? Vamos pensar sobre o sentimento estético, que é um dos efeitos do Belo sobre nós. “Uma emoção agradável, misto de prazer e de surpresa”.

    - Acho eu entendi o que você quis dizer. Não significa que eu concorde. Você quis dizer que surge em nós um sentimento estético, quando em frente da natureza, ou do não-eu, ou do referente , ou obra de arte, exclamamos : Belo, muito belo, belíssimo!

    - Matou a pau, centroavante do Conventão! Simples assim! E se, numa situação qualquer você gritasse: feio, muito feio, feiíssimo! Aí também estaria o Belo com B maiúsculo. A destruição, por exemplo, das Torres Gêmeas, em New York, causou uma sensação horrível no mundo ocidental, mais ainda nos Estados Unidos da América do Norte. No entanto, causou alegria e prazer e em quem planejou aquilo. O fato causou, mexeu tremendamente com emoções diferentes de ambos os lados.

    - Então, começo a refletir, Pisca-Pisca! O sentimento estético tem de ter caracteres. Tem de ter “universalidade”; ação conjunta das faculdades; “variabilidade” e, dentro da “variabilidade”, consequentemente, o caráter subjetivo.

    - Bom! Muito bom! Completo dizendo que na ”Universalidade”, todas as línguas, mesmo as dos povos selvagens, possuem, em seu vocabulário, uma expressão especial para traduzir a idéia do Belo. Em Tupi ou Nheengatu, por exemplo, exprime-se a idéia do Belo pelo vocábulo “puranga”, cujo antônimo é “puxi”. Interessante observar é que a ideia de “mau” também se expressa pela palavra “puxi”. E isso nos faz lembrar a doutrina de Platão e de outros filósofos gregos, para os quais as ideias de BELO e do BEM são intimamente ligadas.

    - Heleno, no telefonema de ontem, perguntei-lhe se chupar manga é Belo, pois sinto prazer em chupar manga. E você disse que sim. Que para mim, Hermelino, chupar manga é Belo. Pode explicar?

    - Claro! Todos os sentidos concorrem para a produção do sentimento do Belo. O sentimento visceral é o mais antigo na evolução zoológica, fonte de que todos os outros  derivam por sucessivas diferenciações.

    - Então, por ordem, posso dizer que o sentido muscular, o tato, o gosto, o olfato, a visão, a audição são estéticos, não é isso?

    - A visão e a audição são sentidos  estéticos, por excelência; como que põem o remate ao admirável aparelho sensório, cujas antenas captam ondas de beleza, que se escapam da perfeição dos seres.

    - Heleno! Vamos para outra sessão? Semana que vem vamos continuar nossa conversa sobre o Belo? Espero que concorde. Darei notícias e.. “stay at home”...kkkkkkkkkkkkkk.

    Heleno Célio Soares