ESCRITOS HELÊNICOS: AGOSTO SEM GOSTO




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  • Agosto sem gosto

     

     - Esse negócio de azar, no mês de agosto, é mesmo verdade. Sinto um arrepio, na espinha, principalmente se é sexta-feira, 13, e dia de lua cheia. Aí então, nem saio à rua, por causa do “cadeirudo”.

     - Mamãe tem uma plantação de guiné, avenca, comigo-ninguém-pode.  Ela diz: - “Minha filha, essas plantas são poderosos amuletos contra o mau-olhado”. – Tem também, lá em casa, espadas-de-São Jorge, que protegem a casa e a família contra os maus espíritos.

     Era assim o interessante diálogo entre Telma Cardoso e Eliane Amara  Enquanto isso, as faces felizes, sorrisos descontraídos, andares despreocupados e juvenis, iam entrando para suas salas de aula, sem antes, uma brincadeira aqui e ali, um bate-papo acolá, no famoso educandário municipal Santos Dumont. Era 10 de... – meu Deus! – A-G-O-S-T-O!

     - Este mês... – dizia Walmir, com seu jeito debochado e já saindo de sala (como é de seu costume), tem até sexta-feira 13. E, por incrível que pareça, a prova de Português é nesse

     De repente, no fundo de um dos corredores da Escola, bem perto do bebedouro, um barulho seco, ploft, e risadas disfarçadas.

     A imprudência levou o Lucas de Souza a se esparramar pelo chão, no que foi logo socorrido pelas apaixonadas fâs, Ísis, do segundo D, Lilásia do segundo G e Amélia do segundo D, provocando verdadeira briga de ciúmes para ver quem o socorreria primeiro.

      - Não falei? Esse antipático agosto só dá azar. Vai ver que quebrou braço, ou as pernas... Partiu o cérebro... Ou até...

      Dariane, do segundo F, atenta às conversas, veio logo falando:

      - Hoje é dia de botar as barbas de molho, não se pode cruzar com gato preto, nem passar embaixo de escada. Quebrar um espelho... Ai meu Deus! Aí, Sim!! Dá azar mesmo .   

     - Machucou, Lucas? É!!! Vai ver que se levantou com o pé esquerdo! Ironizou o Luiz Flávio, seu companheiro de classe, sorrindo, disfarçadamente, diante dos ais do colega, ainda no chão.

     - Deixe de bobagem, gente! Veio gritando nossa meiga coordenadora, professora Beth, (aquela cujo marido é muito bravo).

     - Professora, “existem mais coisas entre o céu e a Terra do que possa imaginar nossa vã filosofia” - Filosofou, com imponência intelectual, a Paloma Vieira.

     - Hum! Falou bonito! – Surgiu uma voz perdida na “multidão” que já se ajuntava ao jocoso incidente.

     - Em agosto, aparecem “sanguessugas,” até no Congresso Nacional, e muitas forças do além ficam nos observando pra trazer má sorte.

    – disse alguém, com a boca cheia de chicletes.

     - Dá azar mesmo! Agosto tem maldição. Meu pai, este mês, não assina nem cheque. Faz figa, benze, bate na madeira, não deixa sapato virado, põe um ramo de arruda atrás da orelha e outro no bolso e ainda acende vela lá na cozinha. – Disse gracejando o Josimar.

     Tranqüilo, sorriso enérgico, privilégio dos sábios, aparece o responsável pela disciplina da escola, o senhor Mauro.

     - A superstição é filha do medo. O medo gera insegurança, a fraqueza... E esse mal ataca ricos, pobres, homens, mulheres...

     E continuava a falar, quando alguém o interrompeu, retrucando:

      - Obrigado, Senhor Mauro! Mas... Em agosto, não passo nem debaixo de escada, pois, preservo a integridade de minha cabeça. Em minha pasta escolar, uso ferradura com sete furos. E não é por motivos estéticos

    – disse Leonan Chaves, filho de um grande criador de cavalos Manga-larga.

     - Superstição é besteira, gente! Continuava o Senhor Mau - Para os outros! Não custa ter precaução, né? – Ouviu-se uma voz tímida, já sumindo entre o grupo de jovens estudantes.

     E mais outra:

    - Eu não creio em bruxas, mas que...

    Heleno Célio Soares