A FRATERNIDADE: A PERCEPÇÃO DO MEU CRISTO NO OUTRO (HERMELIN(D)O - KAKULÉ)




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  • A FRATERNIDADE : A PERCEPÇÃO  DO MEU CRISTO NO OUTRO

     

    A frase exordial deste meu pensar é todo ele  a antítese  do pensamento Nitiano, quando afirma: " Tu próprio és um ser superior a ti,suporta-se a ti mesmo. Mas o que tu, enquanto egoísta involuntário, desconhece é que tu és aquele que é superior a ti, ou seja, que não és apenas criatura, mas também teu criador, e é por isso que o ser superior é para ti um estranho."

    Ao exame deste raciocínio, percebemos a inutilidade, o nada que é Deus para o filósofo quando  afirma em outra passagem: "eu me basto, eu sou a criatura e o criador, não devo almejar nada além de mim, o meu único  limite é não ter sido criador de todos e de tudo, mas não me sinto frustrado,  pois como criatura criador de mim mesmo eu me considero perfeito e acabado, pois não criei outro para estabelecer comparação”.

    Pelo superficial da abordagem ao pensamento Nitiano, creio mesmo o ter maculado, pois teria pinçado uma pequena parte do seu raciocínio fora de um contexto bem mais amplo, buscando, quem sabe, laurear com falsa intelectualidade o meu bizarro raciocínio pseudo filosófico. Mas reservamos  o grande filosofo  Friedrich Nietzsche para outra oportunidade.

    Retornando   ao título do trabalho, a radicalização política surgida na era Vargas está de volta. O antagonismo das idéias , das ideologias são pautadas pela intolerância, pelo ódio.  Após esta epidemia do Covid-19 passar, o que por certo vai acontecer em breve, com a graça de Deus, como diz Martina Sanchez "Um mundo novo pode começar quando cada um superar a consciência ilusória da separatividade e despertar para a consciência verdadeira do todo."   É então oportuna a lembrança do outro como ser humano semelhante  entre si e esta semelhança tem origem na semelhança de todos  com Deus.  Refletirmos  esta lembrança é importante neste momento em que vivemos um clima de intolerância, de ódio que toma conta da política, das relações entre pessoas de ideologias diversas, que faz confrontar pais com  filhos  e amigos.

    Ao contrário do que afirma Niti, para nós o homem não é um ponto do universo, mas um ponto do amor de Deus.

    Ninguém vive para si mesmo, ninguém se basta e nenhum de nós morre para si. Se somos para o outro e no outro encontramos Deus, então somos para Deus e para Ele morremos. Em morrendo para Deus, morremos em sua direção, buscando a nossa origem. Ora, se a nossa origem é Deus, ao morrermos retornamos a Deus, retornamos à vida eterna. Como bem diz Santo Agostinho, o homem é um ser itinerante que ruma para Deus .

    Através da fraternidade, virtude um tanto escassa nos dias de hoje, encontramos força para enfrentar as adversidades do dia a dia, buscando acalentar as nossas angústias diante do inacabado que somos. Quando abandonamos esta e outras virtudes, nos percebemos apenas em nós mesmos e ai somos tomados pelo egoísmo, pela inveja, pela intriga. Na fraternidade vivemos em um mundo sem fronteira. A fraternidade  é um sentimento infinito e se realiza no outro, e o outro são todos  e todos se encontram em Deus que é imensurável, infinito e onipresente. Somos livres em nossa fraternidade, em nossa alegria e em nós há de permanecer  eterna e intocável a beleza que descobrimos no outro através de nossos olhares transparentes.  A transparência  de nosso olhar está em um olhar sem culpa, em um olhar que busca ver o belo não exposto das pessoas. Olhar transparente é olhar para o outro buscando nele a nossa identidade(Deus).

    Nessa  imensa rede de fraternidade é preciso que cada um de nós,  universalizando-se  no outro , se encontre em si, construindo a reta do seu agir cotidiano, crescendo assim um pouco mais enquanto ser humano. Incrivelmente , já vivenciamos o insensível desprezo pela vida, já não nos sentimos escandalizados pelas mortes  estúpidas, perversas que todos os dias acontecem em nossa volta; passamos a banalizar a violência na sua forma mais cruenta: a morte, principalmente em se tratando  da morte dos excluídos dos banquetes dos ricos. Há muito não nos sentimos morrer no outro e os sinos dobram sempre só  para  o outro, como se o outro fosse algo fora de nós;  não mais  nos percebendo   no outro, estamos privando esta identidade  transcendental que é a alma humana do sentido da universalidade,  e quando passamos a nos perceber  apenas em nós mesmos  é sinal da ausência da fraternidade e passamos a ser como  uma nau sem rumo, à deriva; passamos a não ver no outro uma ponte para Deus, mas um abismo para a morte.

    Nesta linha de raciocínio, podemos dizer que o homem é um ponto da vontade de Deus e, sendo assim, o homem é infinito (enquanto alma), pois faz parte de Deus que é infinito. O homem busca o infinito em Deus e o Deus mais perto de nós é o Deus do nosso próximo e  nós nos identificamos porque nele descobrimos o Deus que nos habita e esta identidade de Deus em nós e no outro nos aproxima daquilo que temos de melhor, nos aproxima da universalidade cósmica de nossas almas,  estabelecida pela presença de Deus em cada ser humano. Foi percebendo esta universalidade, esta comunhão da alma humana , que o fiósofo Jean Paul Sartre, ateu à época em que externou esse pensar, brindando-nos  com a mais cristã das verdades: "Por ser humano, me sinto responsável por cada gesto do meu semelhante". Aqui está a resposta "por quem os sinos dobram". Eles dobram por cada um de nós. Enclausurados  pela epidemia  do covid-19, com certeza teremos tempo para refletir e permitir que nasça em nós a consciência do outro, que  percebamos verdadeiramente a extensão de todo ser humano, para que sejamos cada dia mais fraternos e menos intolerantes  para com nossos irmãos, por mais diferentes que nos pareçam, por sabermos todos originários do amor de Cristo.

     

                                                                                     

                                            HERMELINO MOURA  PEREIRA

     

     

     

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