ITER FACERE - CÍCERO MATOS DE CASTRO




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  •                                                     Iter Facere

     

     

             Da obra de Camões, Os Lusíadas, uma crítica apologética contundente e sem reparos, aos pessimistas e adeptos do caos, identifica o Velho do Rastelo,  personagem do Canto IV, com uma visão do  passado. Um autêntico conservador, que não entendia o seu próprio tempo. Na despedida dos itinerantes na Praia do Rastelo, condenava a aventura de buscar um novo caminho marítimo para as Índias: os perigos, o desconhecido. Um novo Iter.

     

             Ao renunciar o sacerdócio, os betanistas exoneravam-se da figura negativista do Velho do Rastelo e aproximavam-se da presença atemporal de dom José Tupinambá da Frota. Nosso prelado nunca sentira a escuridão no futuro. Escoltou a Princesa do Norte e a levou para onde queria, ocupando os lugares vazios. Em um dos pontos cordiais, construiu o Seminário São José. Noutro a Santa Casa de Misericórdia. E lá vai Sobral. O mesmo aconteceu com a Catedral e o Caminho Meruoca. No centro, a convergência, o Palácio Episcopal.

     

            A Providência ao sagrá-lo, quis um filho da região, do sertão e do sol democrático. Corajoso e de potente saber. À noite o doce Aracati entra silencioso e, através dos punhos de sua rede, vai-lhe fazendo um afago.

     

            Diante desse referencial, o ex-betanista começa a construir a própria autonomia, escolhendo a retidão do caminho novo. Carregado de incertezas, não desanima . Vai em frente. Foi assim que assumiu o primeiro emprego.


            Meu Iter estava ali. Pertinho. As portas cúmplices e sem ranger se abriram para mim. Entrei. Apresentei-me. Diante do proprietário do Ginásio Nossa Senhora de Fátima, roguei à Virgem Maria que me acolhesse entre os pastorezinhos de boa fé.

     

          Neste momento salutar, voltei à Betânia e em gesto virtual de agradecimento, materializei a figura baixinha do meu contemporâneo Jairo Pontes, criador da PASI (Pequena Academia Seminarística de Improviso). Lá estava ele. Pontual : fala Cícero. Expõe a tua angústia. Construí meu original pedido, o meu querer e ouvi do diretor: seu emprego está garantido, comece amanhã. Fui pontual.

     

         Sentei-me. Sem fazer poeira, fui-me ambientando à novíssima realidade. No mês seguinte, o aniversário do diretor. O homem era um dos chefes da Revolução no Estado do Rio de Janeiro. Muito poderoso.

     

                 Na hora da palavra facultada. Ninguém. Só ouvi um sussurro apelativo: vai lá Ceará. Aproveita. Lá vem o Jairo de novo. Levantei-me e proferi uma saudação formal e adocicada. Tremendo por dentro e seguro por fora, registrei esta frase: a partir de hoje, administraremos o nosso tempo. O senhor cuidará da sua paróquia e do Colégio, cuido eu. Assumi o ousado compromisso verbalmente, sem ele saber que em BH fundamos o Diretório Acadêmico Alceu de Amoroso Lima adverso de Gustavo Corção. No início só desafios. Poderosa, a direção não acatava as normas do MEC. Atendi todas as exigências. Ao final do meu labor, não existia mais o Ginásio de Primeiro Grau, mas um Colégio profissionalizante. Na despedida fui à Igreja num agradecimento a Jairo, o criador da PASI e responsável pelo meu  Iter Facere.

    Cícero Matos de Castro