"DAI-LHES VÓS MESMOS DE COMER" (Mt 14,16) - Pe. ANTÔNIO MATTIUZ



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    CF-2023: FRATERNIDADE e FOME.

    "DAI-LHES VÓS MESMOS DE COMER" – Mt 14,16.

    Pe. Antônio Mattiuz – CF 2023.

     

    Toda Campanha da Fraternidade sempre trata de assuntos graves, urgentes e de interesse do Bem Comum.

     

    Introdução - A Quaresma é tempo de conversão: Convertei-vos e crede no EvangelhoMc 1,14s.

    Todos somos convidados a renascer em Cristo com mudanças de mentalidade e de atitudes.

    Neste ano de 2023 somos chamados a renascer na responsabilidade prover alimento aos irmãos que passam fome.

    As estatísticas provaram que mais de 33 milhões de brasileiros sofrem fome.

     

    Objetivo Geral da CF-2023: Sensibilizas a nós, à Igreja e a sociedade para enfrentar o flagelo da fome sofrido por grande multidão de brasileiros, e nos comprometer a transformar essa realidade a partir do Evangelho de Cristo – (pág. 09).

    Objetivos específicos:

     01- Desvendar as causas da fome no Brasil.

    02- Acolher a Palavra de Deus e nos comprometer à corresponsabilidade fraterna (fazer a nossa parte).

    03- Investir em gestos concretos individuais e comunitários para superar a miséria e a fome.

    04- Incentivar a agricultura familiar e a produção de alimentos, mesmo na cidade.

    05- Exigir Políticas Públicas de alimentação, garantindo que todos tenham vida.

    Objetivos permanentes:

    01- Reforçar o espírito comunitário dos cristãos, e comprometê-los em favor da vida.

    02- Reavivar a consciência da responsabilidade de cada um na construção de uma sociedade justa e solidária.

    QuaresmaÉ o tempo da caminhada cristã de conversão rumo à Páscoa para uma vida cristã nova (o Reino).

     

    APRESENTAÇÃO da CNBB.

    A CF é convite de conversão pessoal, comunitária e social. Neste ano é agir para debelar a fome de muita gente.

    No Brasil muita gente clama, grita, chora e sofre pela falta do alimento necessário.

    O Papa Francisco afirma que não há democracia onde há fome.

    Mais de 33 milhões de brasileiros sofre fome e não têm condições de alimentar devidamente seus filhos.

    Em 2023 é a 3ª vez que a CNBB enfrenta o grave e urgente problema da fome (1975. 1985 e 2023).

    Jesus teve compaixão da multidão com fome (Mt 14,14-21).  Seus discípulos sugeriram soluções paliativas deixando a solução nas mãos dos famintos, mas Jesus lhes disse: “Dai-lhes vós mesmos de comer” – Mt 14, 16.

    Em seguida Jesus, com o pouco que eles tinham, mandou que eles mesmos repartissem e distribuíssem o alimento.  E assim 5.000 homens, sem contar as mulheres e as crianças, puderam comer à vontade.  Isso vale também para nós hoje.

    Nós, a sociedade e o Estado com suas Políticas Públicas, temos o dever de atingir a  raiz deste vergonhoso flagelo, garantindo a produção e a distribuição do alimento necessário para todos, principalmente para os mais pobres.

    Jesus se identifica com os famintos e diz: “Eu estava com fome e vós me destes de comer... Por isso vinde benditos de meu Pai possuir o Reino dos Céus” – Mt 25, 34.40.

     

    INTRODUÇÃO.

    Quaresma é o tempo favorável para a conversão pessoal e comunitária, sair do individualismo e da indiferença, viver a solidariedade e a responsabilidade seguindo os apelos de Jesus no Evangelho. Nós somos o novo povo eleito de Deus, chamados, formados e enviados para iniciar e fazer crescer o Reino de que Deus.

    Os Bispos do Brasil insistem para que todos assumam e vivam o espírito comunitário cristão de fraternidade e de partilha do alimento com os famintos e carentes.

    O Papa Francisco nos diz que não há vida plena onde falta o alimento básico e a solidariedade.

     

    NA FONTE DA PALAVRA DE DEUS.

    Mt 14, 13-21 relata como Jesus foi de barco a um lugar retirado. As multidões o viram, foram e chegaram lá a pé antes de Jesus para o escutar. Vendo aquela multidão, Jesus teve pena e curou muitos doentes.  Ao entardecer os discípulos pediram a Jesus despedir o povo para que fosse comprar comida nos povoados.  Jesus lhes respondeu: “Dai-lhes vós mesmos de comer”.  Eles disseram: “Aqui só temos 5 pães e 2 peixes’.  Jesus disse: “Fazei o povo sentar”.

    Depois Jesus partiu os pães e os peixes e os deu a eles para distribuir e dar a cada quanto quisesse.  Eles distribuíram.  Todos comeram e ficarem saciados.  Jesus ordenou aos discípulos: “Recolham as sobras para que nada se perca”. Pg18.

    Lugar deserto é lugar de reflexão e de tomada de decisões.

    Compaixão: Jesus curou os que estavam doentes e deu comida aos famintos.   a tendência dos discípulos é lavar as mãos e passar o problema para frente: cada um resolva o seu problema.  Mas não é o que quer Jesus: é necessário que seus discípulos se sintam responsáveis e façam a sua parte.  Eles tinham pouco, só o suficiente para eles, mas Jesus pediu que pusessem tudo em comum e repartissem o pouco que tinham.  Só depois Jesus fez o milagre da multiplicação.

     

    VER a realidade da FOME (pág 24).

    Jesus nunca foi indiferente às necessidades do povo.  Ele hoje nos diz: “Dai-lhes vós mesmos de comer” – Mt 14, 16.

    No Brasil não faltam alimentos.  Cada ano o Brasil bate recordes de produção, mas falta olhar para os famintos e que ninguém passe fome, adoeça ou morra por falta de alimento. Desde março de 2020 a fome no Brasil se tornou um escândalo de proporções inimagináveis.  Uma grande multidão de brasileiros não tem o alimento necessário para viver.

    Nesta quaresma nós também precisamos fazer como Jesus: “levantar os olhos e ver”.

    É Direito Humano que toda pessoa tenha o necessário para ter vida digna, alimento adequado, suficiente e indispensável para a sobrevivência saudável.  A alimentação saudável, adequada e suficiente não é só questão de solidariedade, mas também é um Direito e dever do Estado e da Sociedade, previstos na Constituição Federal brasileira.

    Os números da fome – Hoje mais de 33 milhões de brasileiros sofrem a fome.  As principais vítimas são os pobres, os negros, os pardos, os idosos e os desempregados.  Nos últimos anos o desemprego cresceu muito e a renda baixou.ojNós

    O Programa Auxílio Brasil não mitigou a grave situação da fome.  A pandemia da COVID-19 com 680.000 mortes, só agravou a situação, atingindo os mais frágeis que são os: negros, pardos, mulheres, doentes, idosos e desempregados.

    CAUSAS da fome no Brasil: Não são as intempéries, os desastres e as guerras, mas: 1º) A estrutura fundiária de grandes propriedades com a produção orientadas para a exportação, o que exclui os pequenos e médios produtores. Urge fazer uma justa redistribuição da terra. 2º) A perversa Política Agrícola destinada ao sistema econômico-financeiro do agronegócio e do mercado internacional para a exportação e não para alimentar a nossa população.  O Brasil produz mais para exportar, lucrar e não para o seu povo comer.  O Brasil é chamado ‘celeiro do mundo’, mas é assolado pela fome.

    Quando a lei maior é o lucro, há exploração das pessoas e crescimento da fome. São as novas formas da escravidão.

    O Papa Francisco disse que as pessoas sem alternativas se obrigam a aceitar esse veneno estrutural de passar fome.

    A política salarial – O problema não é a exportação quando o País exporta o que a sua gente não consome.

    Para garantir o alimento para todos são necessárias as Políticas Públicas (com bolsas, subsídios, preços...).

    A grande causa da fome é o baixo poder aquisitivo do salário, insuficiente para as compras.  Outra é a lastimável corrupção e a busca do poder político em benefício próprio e do grupo e a perda do sentido do poder para servir o povo.

    As raízes da fome estão na má distribuição da renda e das riquezas que estão nas mãos de poucos.  No Brasil vigora esta dinâmica: Ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres. Isto não o que Jesus quer dos cristãos.

    O Brasil nunca teve como prioridade alimentar os seus cidadãos, mas ter lucro e cada vez mais lucro.

    Consequências da fome (67) – A fome não atinge só a vida, mas também a dignidade da pessoa humana. Ela provoca debilidade do organismo, apatia, indiferença, perda do sentido social, destrói famílias, violência doméstica, aumenta a criminalidade, causa êxodo rural principalmente dos jovens que não querem permanecer na terra (67).

    A responsabilidade maior para enfrentar e solucionar o problema da fome é do Poder Público.

    O Brasil já esteve fora do mapa da fome, mas nos últimos anos regressou.

    Os Poderes Públicos mais próximos do povo e mais responsáveis são os municipais.  Eles precisam incentivar, favorecer, viabilizar e facilitar a agricultura familiar, hortas comunitárias e familiares, inclusive na cidade (84).

    Agrotóxicos – Não se pode falar em alimentação saudável sem falar em agrotóxicos.  O Brasil é campeão mundial no uso de agrotóxicos, muitos deles proibidos no exterior.  No Brasil se aplicam perto das casas, das hortas, dos rios, das nascentes, das pessoas, dos animais, o que é rigorosamente proibido em outros países (88).

    A cultura do desperdício – Grande quantidade de alimentos são desperdiçados, e é o que falta na mesa do faminto.

    Fome e educação – A educação (CF-2022) é essencial para a alimentação.  Ela deve ocorrer na família desde a infância, na escola e na universidade, contra o desperdício, a favor da solidariedade e na superação da indiferença (91).

    40 milhões de estudantes no Brasil recebem a merenda escolar, que para muitos, é a única refeição do dia.

    Grande parte desses alimentos são comprados diretamente da agricultora familiar.  Infelizmente o Governo Federal anterior diminuiu muito a verba com esse fim e por isso a fome aumentou (92).

    O que se fez no combate à fome – Muita gente lutou contra a fome: Igrejas, movimentos sociais, ONGs...

    Nós precisamos valorizar, apoiar e ajudar as iniciativas que visam debelar a fome.  Vejamos 4 delas 94):

    Sociedade São Vicente de Paulo (Vicentinos) – Foi fundada na França por 6 estudantes universitários liderados por Frederico Ozanan.  São cristãos leigos e leigas a serviço da caridade para aliviar a fome e os sofrimentos dos pobres.

    Hoje estão em 150 países, inclusive no Brasil e se dedicam a projetos sociais para os mais vulneráveis (95).

    A Caritas Brasileira fundada por Dom Helder Câmara em 1956, com o objetivo de combater a fome e a miséria. Ela realiza Campanhas emergenciais de socorro, implanta Projetos Produtivos Comunitários, inclusive na produção de alimentos como hortas familiares e outros.  A Caritas não age sozinha, mas busca a Incidência de Políticas Públicas (96).

    NB: 60% da oferta que fazemos no Domingo de Ramos será administrada pela Cáritas da nossa Arquidiocese.

    A Pastoral da Criança fundada em 1983 pela médica Zilda Arns que atua para salvar crianças da morte e da desnutrição, inclusive com alimentação completa de baixo custo como a multimistura e outros (98).

    Sentimos a falta da ação mais efetiva dos Bancos Éticos que têm a função de usar as finanças para o social (100).

    A fome é combatida com Políticas Públicas municipais, estaduais e federais, mas que ultimamente sofreram um grande desmonte no Brasil, que por isso retornou ao mapa da fome.   Em 2003 nasceu a estratégia ‘Fome Zero’ com o fim de reduzir a pobreza e erradicar a fome no Brasil, garantindo alimento para todos.  A CNBB foi parceira do Estado (101).

    A Economia da Comunhão – Fundada por Chiara Lubich em 1943 (Focolares) com o objetivo de produzir riquezas e empregar seus lucros, além do sustento da empresa, na superação da pobreza e no sustento dos necessitados (106).

    Que todos sejam irmãos – Olhando para o Brasil vemos que o Reino tão querido por Jesus é fraco.  No Brasil nem todos tem vida plena por causa da ganância e da indiferença.  A fome ofende a Deus e faz sofrer o próximo.  Precisamos fazer com que as Políticas Públicas sejam ativas e eficazes para que todos tenham o alimento necessário (112-3).

     

    ILUMINAR com a luz da PALAVRA (pág 60).

    A Palavra de Deus escutada tem o poder de transformar, iluminar e indicar os caminhos a seus discípulos seguirem.

    O mandato de Jesus é desafiador: “Dai-lhes vós mesmos de comer”.  Não é fácil, mas é dever de todo o cristão (115).

    Deus vê o sofrimento do povo e quer a sua libertação, principalmente da fome e da miséria.

    No deserto Deus mandou o Maná diário com fartura, mas ninguém podia acumular e nem estocar (Ex16).

    A Terra Prometida era de fartura onde correria leite e mel, mas Deus sempre exigiu a partilha. Partilhar   com todos não só quem tem muito, mas também quem tem pouco (127). Os Apóstolos tinham bem pouco e Jesus lhes ordena: “Dai-lhes vós mesmos de comer”.  Trazei aqui os 5 pães e os 2 peixes.  Eles trouxeram o pouco e Jesus fez o resto (131).

    Jesus os chamou à responsabilidade e à ação para vencer a indiferença (132). A responsabilidade é do grupo.

    A Celebração Eucarística do início do cristianismo era também um jantar dos fiéis, e não só comungar.

    Eucaristia e partilha – Nos 1ºs séculos da Igreja a Celebração Eucarística era associada a um jantar, onde não se fazia diferença de classes, raça, riquezas.  Todos comiam e repartiam.  Não se entendia Eucaristia sem partilha, sem fraternidade e sem responsabilidade social com os necessitados.  Hoje perdemos grande parte desse sentido – 144.

    São João Crisóstomo, no séc. 5º, escreveu: ‘Muitos cristãos saem da Igreja e veem fileiras de pobres e famintos e passam longe deles como se vissem colunas e estátuas sem vida’.  E continuou escrevendo: ‘Jesus está andando junto com os pobres e famintos.  Se os ajudares, no dia do Juízo ouvirás: “Vem bendito de meu Pai possuir o Reino, porque eu estava com fome e tu me deste de comer.  Mas se nada fizeres ouvirás: Afasta-te de mim e vai para o fogo eterno, porque eu estava com fome e tu não me socorreste’.  O que fizeres a um deles, a mim o terás feito ( Mt 25,45) - 148.

    A Eucaristia está estritamente ligada à caridade e antecipa o Reino, o mundo novo – 150.

    Jesus vem ao nosso encontro junto com os pobres e famintos esperando ajuda e justiça – 151.

    O Papa Francisco diz: “A Eucaristia transforma o mundo na medida em que nós nos deixarmos transformar pelo espírito de Jesus repartindo o pão com os famintos – 154.

    Quando olhamos para a fome no Brasil nós vemos também a grande fartura da exportação de alimentos (Brasil, celeiro do mundo), mas só está faltado o serviço dos discípulos de Cristo na partilha.

     

    AGIR para transformar a realidade da FOME (pág 80).

    Desabafo pessoal – No último governo a fome no Brasil cresceu muito.  Mesmo assim, uma multidão de cristãos não levantou os olhos e não viu nada e votaram para continuar tudo como estava antes.  O governo atual fez belas propostas para debelar a fome. Queira Deus que consiga realiza-las.   Vamos apoiar e fazer a nossa parte.

    Desafios – Dar o alimento necessário a 33 milhões de brasileiros famintos é um grande desafio para os discípulos de Cristo.  Mas é nosso dever de cristãos agir e achar soluções eficazes – 157,

    Todos os dias nós rezamos o Pai Nosso.  Pedimos não o Pão meu, mas o pão nosso para todos.  É preciso fazer a nossa parte e apoiar as Instituições paroquiais, municipais, estaduais, federais e ONGs que agem no combate à fome - 158.

    Sem caridade efetiva o Batismo e a fé cristã não servem para nada – 159.

    É preciso dar comida ao faminto agora já, pois a fome dói e o faminto tem pressa.  Depois poderemos ajudá-lo a conseguir trabalho para ganhar o seu pão com o suor do seu rosto e com dignidade.

    As ações pessoais são muito importantes, mas insuficientes.  Precisamos das Políticas Públicas municipais, estaduais e federais.  Vamos nos organizar, cobrar e exigir – 160.

    Em 1979 o IBGE publicou que só 8 alimentos são a base de 80% do povo brasileiro.  As Políticas Públicas podem e devem garantir a estabilidade do preço e dos estoques desses alimentos, até mesmo com subsídios ou tabelamento – 161.

    É necessário empenho pessoal, comunitário, social e político para superar a fome no Brasil – 164.

     

    PROPOSTAS Pessoais, comunitárias e políticas – 166:

    01-              Partilhar o pouco ou o muito que temos com o faminto e o necessitado.

    02-              Jejuar, e o que se economizou, dar aos famintos (4ª feira de cinzas e 6ª feira Santa e outros dias).

    03-              Colaborar nas campanhas de arrecadação de alimentos com Entidades.

    04-              Abolir o desperdício de alimentos: o que você joga fora, faz falta na mesa do pobre.

    05-              Fazer doação significativa no Domingo de Ramos (60% fica na Diocese e a Caritas administra).

    06-              Cobrar Políticas Públicas contra a fome do Município, do Estado e da Federação.

    07-              Realizar cozinhas comunitárias, hortas comunitárias e domésticas, envolvendo o município no fornecimento de terra própria, de mudas, de adubo orgânico...

    08-              Incentivar o voluntariado em ações sociais concretas contra a fome,

    09-              Educar para a solidariedade nas escolas, colégios e nas universidades.

    10-              Cobrar iniciativas concretas e eficazes contra a fome daqueles que elegemos para governar.

    11-              Incentivar a produção diversificada e a compra direta do produtor para escolas, feiras e preço bom.

    12-              Lembrar sempre a Palavra de Jesus: “O que tiverdes deito a um deles, a mim o tereis feito”.

    Só é cristão verdadeiro quem vence a indiferença e socorre o faminto e o necessitado.