- 
						 
				 
Ternos contornos
Tempo seco, época de seca.
O vento trabalha ao desvario,
ao invés de chuva, traz pó.
Estas folhas dos pés de frutas,
esbranquiçadas, um pouco tristes;
este insumo branco, inesperado
vem de longe, vem de São José (da Lapa) ?
vem da Lapa Vermelha (?), talvez,
até de mais longe, não dá para saber,
quem sabe da Anglo Gold (?) ,
a Ferro Brasileiros não há mais.
De Conceição de Mato Dentro,
de Ibirité ou de Caeté,
de Brumadinho, do Córrego do Feijão,
dá para saber ao certo (?),
de onde vem esta brancura,
ou este marrom ou essa tez estranha
que cobre folhas, cobre canas, cobre abacateiros,
pulveriza a horta, pés de mamona,
mamoeiros, algodoeiros, assa-peixes...
mas se fosse só, mesmo assim daria dó.
A água traz fortuita
uma alva borra que cobre
o fundo dos canecões de ferver água para o café,
Com o tempo , a borra que não sai,
a não ser a poder de força,
vai virando crosta,
uma calcárea crosta.
A água demora a ferver,
gastos mais gás e tempo
de quem está com o pó no coador
esperando com a caneca
o marrom líquido abençoado.
A secura invade , também, as almas.
Uma tristeza axial, básica.
Contemplamos os urubus em elevação,
planando, buscando correntes de ar a seu favor.
Andorinhas, poucas tem aparecido.
Os carcarás aparecem multiplicados.
Três siriemas, indolentes, mas atentas
passeiam contornando a casa,
ouriçando os gatos, aprendizes de caçador,
não sei o que esperam ou desejam,
mas fome e sede devem ter.
Há um milagre a vista ,
que a gente quase não lista,
O abacateiro desde novembro
(estamos em agosto )
concede seus frutos
a quem os queira comer
e tenha ousadia de busca-los,
para isso asas e garras são necessários,
nem um bambu comprido ao máximo,
consegue alcança-los na lonjura vertical.
Todas as manhãs imensas bolotas verdes caídas,
algumas um pouco comidas,
outras inteiras, porém trincadas ou rachadas
por causa da altura da queda do pé de bem querer,
abacates para todos,
quando o vento sopra e o pé balança
o milagre mais rápido acontece.
Tucano ou Jacú com fome
pode fazer as vezes do vento.
Nas frutas matinais
abacate e mamão misturados
o verde com amarelo ou alaranjado,
comemos com sofreguidão.
O que sobra é dos pássaros,
para eles não existe o pouco,
tudo que oferecemos comem com gosto,
Já na idade em que estamos,
eu e Anna,
vamos gastando parte da parca aposentadoria
com os bichos de casa (cães e gatos )
e também com os do mato.
Mas parece que até o mato está indo embora.
Encontramos dois homens roçando com foices
os precários arbustos de flores belas,
numa grande área, que visitamos com alegria
desde que começou a pandemia .
( C O V I D ).
Olhamos ao longe , contemplando as serras,
e pensamos juntos:
- Daqui a pouco até as serras vão embora.
- Vão não, já estão indo, lançadas ao vento,
nos trens da baixada em movimento.
-Vão não, já foram, só deixaram a carcaça ,
apenas um contorno de fumaça,
que se desenha contra o céu,
enganando os crédulos e aos mal informados;
Oh ! Gloriosa Minas,
deixe de ser Gerais,
Gerais demais,
guarda um pouco de ti
para os que virão atrás,
atrás de nós,
eles não merecem nossos ais.
Geraldo Felix Lima
Confins/Belo Horizonte.
25 a 27 de Julho /2022.
 
