• Três Ensaios

     

    1

    Alhures

    Rumores

    Média luz

    Neon em fita.

    A desdita

    lambe o pobre

    de xôfre.

    O choque top.

    Dedão azul.

    Dedal reluz.

    A agulha fagulha,

    chapisca talisca

    o Dedo Chefe

    de Meqrefes

    e Miquerinos.

     

    2

    Dois balaios cheios

    o Peão Bão

    roseta as  ilhargas

    o ginete empina

    a carga do Sovina

    mergulha na enxurrada.

    Bananas, rapaduras,

    carne dura, bem solada.

    Os balaios re-cheios

    voltam aos arções das cangalhas.

    O tropel de burro carregado,

    o sincerro ritmado

    vai contando caso,

    lembrando a SáZabé.

    Amanhã Sê volta cá.

     

    3

     

    O tirador de língua

    passou de noite,

    a vaca coicea e cabeceia

    querendo de volta o sangue,

    enfim desmonta a coitada.

    Foi onça, capeta , tamanduá...

    Vai sabê, vai sabê ...

    Ninguém sabe.

    Quem pode gostar de língua comer,

    deixando perder toda carne ?

    As varejeiras chegam

    em vôos fretados .

    Em enxames, invejando  abelhas.

    Zoando a música inacabada,

    que não acaba.

    Urubus descem, de ponta ou planando,

    tantos, desamedrontados,

    vão bicando e puxando

    tripas, chulipas, gordura e sebo;

    fogem dos cães, mas retornam

    aos borbotões cheios de força e intenções.

    A vaca vira carniça.

    A carniça vira só osso.

    O osso aos poucos,

    bem aos poucos

    vira pó.

    A vaca saiu do pasto

    virou paisagem

    e agora é só terra pisada

    e história contada

    da língua roubada.

    O ladrão anda por aí,

    solto, sem identidade...

    Tranquem suas bocas,

    cerrem os dentes,

    guardem a língua

    no fundo da garganta.

    À noite nem cheguem na janela.

    * * *

     

    Geraldo Felix Lima

    Confins – 03/07/2022