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Ventania
O vento sopra em desigualdade.
Aqui é fantasia... Ali, areia fina alisa...
Bem lá, não cede ao choro gritante
A transbordar gemidos inapeláveis.
Agora... Ele não mais sibila...
Arqueia as veias ressequidas.
Sacode as ervas grisalhas,
E gargalha:
“Cumpri minha missão;
Teu corpo é caverna
De minha voz: solidão”
O vento não deixou
Poeira nos caminhos,
Nenhuma terra-a-dois.
Nenhuma terra-a-dois
Empurrou as tranquilas margens...
E o rumoroso rio
Perdeu antigo leito.
Sacode o oceano-seco no peito...
Os braços não abrem mais...
É hora de abandonar os manuscritos...
Até os bosques se arrancam em voo.
A fala não é mais sinuosa...
É só uma fábula,
Na virada do vento.
Heleno Célio Soares
 
