ESCRITOS HELÊNICOS - NEM TANTO...NEM TANTO




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  • Nem tanto... Nem tanto

     

    Dia quatro de junho, ele me telefonou, certamente não só pela amizade que nos une desde o final da década de 1950, ou início da década de 1960. Ambos pertencíamos à diocese de Oliveira. Ambos de famílias  bem simples.

    - Tudo bem, Heleno?  ( E a introdução parlatória comum nas conversas entre amigos).

    - Estou bem, Vicente! E bem mesmo. Sei que você se preocupa com  minha saúde... Obrigado pelas orações... E eu estou muito tranquilo e harmônico comigo mesmo e com o universo.

    - Estou lendo e relendo alguns textos seus. Você sabe, amigo, que você é um  Poeta?

    Dei uma sonora e helênica gargalhada. Depois que terminamos nossa conversa, que foi longa... fiquei me perguntando: Que é ser Poeta?

    Do outro lado, Vicente continuou: - Em seus escritos você expressa emoções, sentimentos, sensações, angústia e alegria. Você obriga o leitor a uma concentração inesperada para ir além do vocábulo e mergulhar numa dimensão além de nossa percepção material.

    - Difícil é eu escutar de você que “sou poeta”. Rsrsrsrsrsrs ( E continuo rindo do lado de cá). O que escrevo, amigo Vicente, tem sim um valor atemporal. Minha poesia, se você quer usar esta palavra... que honra para mim, vindo do amigo que conheci ainda quando adolescente, é um amontoado de palavras e sentimentos que viajam  dentro de mim, como flechas, na expectativa de atingir alguém.

    - Imagino, Pisca-Pisca, que ela está calcada no sorriso, que se abre e fecha, irradia reflexões, experiências vividas e contradições encontradas no ser humano e por que não,em você?

    - Olha! Vou tentar explicar. Gosto de Mozart. Johannes Chrisostomus Wolfangus Theophilus Mozart ( 1756 a 1791). Agora, enquanto escrevo, relembrando nossa conversa por telefone, ouço “Nocturnus”, op.9, número 3, in B Maior, Allegretto.  Sim! Gosto de Mozart. Tenho até um poema como nome dele.. O diabo é que nem solfejar eu sei. Colocar-me diante de uma pauta musical para solfejar... Ah! Não dá! Mas gosto de suas músicas, deleito-me com elas, com as sinfonias, como os silêncios que falam no meu interior e que me trazem e me colocam em estado de meditação... Olha! Só não entendo da técnica musical. Mas, como um dia disse-me nosso colega Kakulé: É bela! Aí está o Belo. Na incompreensão  do significado total. No entanto. O significante  me proporciona vibrações positivas. Para mim, o  Belo também está aí.

    - Eu e o Hermelin(d)o já falamos sobre isso. Posso escutar, ver, ou, com os cinco sentidos, sentir a obra de arte. E não entender bem. No entanto, vibro com ela, que estimula meu cérebro e meus sentimentos.

    Escrevo sem ser escravo de modelos ou escolas literárias. Escuto o eu-lírico despreocupado com técnicas e lanço as palavras para o ar. Quem quiser ou puder respirá-las que o faça... Quem não quiser...

    - Certa vez, você escreveu que sua poesia era apenas uma embalagem, mas que havia um presente lá dentro para quem quisesse abri-la.

    - Vicente, eu tenho muita necessidade de conversar com pessoas. Nesta

    epidemia, isolei-me. E ainda com esta doença me assolando... Meu refúgio ficou na leitura, no computador e nas orações. Por isso encontro um motivo para escrever sempre mais e nunca uma tentativa de agradar a alguém.

    - Caro amigo,  nosso colega  delegado, antigo jogador de futebol, centro-avante (dos melhores que já passou pelo Casarão), me disse  que você não estava muito legal, há dias, e que  se emocionou no lefonema em que se falavam, e que você desligou o telefone. O que foi?

    - Espinhento! Foi verdade, Depois me reporto a ele. Sempre me emociono quando estou diante de pessoas tão boas quanto você e o Hermelino .  Dê um abraço nele e diga-lhe que depois eu  telefono para ele. Agora... vou descansar um pouco. Um abraço a você e a todos meus ex-colegas do  velho Casarão.

    Heleno Célio Soares