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O MEDO NOS DESALINHA
Quem sou , quem somos ,
o coletivo gênero humano ?
Pergunta perdida no esgar da boca
e nas circunvoluções cerebrais e auditivas.
De onde viemos,
para onde vamos ?
A resposta nos obtusa e nos consome.
Esta inquirição
acende o medo e a fome.
Hoje, ontem e amanhã
não são produtos de prateleira.
Não podemos guarda-los
ao nosso bel-prazer.
Guardar o ontem
depende de nossa memória.
Fazer o hoje
depende de nossa vontade.
O amanhã reclama nossa coragem.
Memória; incólumes
o coração e o cérebro,
o coração seleciona,
o cérebro retém e guarda.
No sentido da autopreservação
Orienta-nos o coração
a jogarmos fora as memórias amargas.
As doces, às vezes as queremos
e o cérebro as nega.
A vontade se arrefece com a idade.
De onde nasce este motor da vida ?
Nasce dos “Rins”, na tradição
da milenar Medicina Chinesa.
E o que pode lesar os “Rins”
e desse modo a vontade ?
O excesso de trabalho, o stress e o medo.
O medo mais sutil do ser humano
é o medo da pobreza;
daí nasce o excesso de trabalho e
tudo que a ele se soma .
Ao medo sutil,
acrescentamos ao nosso dia
a cada dia e hora
medo do governo do país onde habitamos,
medo dos maus negócios,
medo das doenças agudas e crônicas.
Uma infinidade de sintomas e emoções
miasmáticos nele tem sua origem .
Quando o medo se instala em nós,
parasitariamente, vai substituindo
e anulando a vontade.
E de par em par
as portas do nosso ser
a todo mal parecem abertas .
Sentimento de frustração,
esforços não compensados e inúteis,
um grande freio nos trava e nos emperra.
Não é prisão temporária,
é prisão a domicílio,
dentro de nosso corpo e alma.
Resta-nos emitir um grito,
primeiro para nós mesmos,
depois para os que aguardam a nossa verbalização;
amigos, família, médicos, orientadores espirituais.
.
Desse terreno nascem o ódio e a raiva
que nos imobilizam numa constante postura de luta .
O medo, ainda cedo
torna-se pai da indecisão
e às vezes da coragem suicida.
O medo nos traz a paralisia mental.
E nos aflige com o pensamento
obstruído, obsessivo, estagnado.
E a preocupação manietadora
torna-se nosso caráter provisório.
Buscamos compensações; não podemos
conviver eternamente com o medo.
A ansiedade crescente leva-no
às compulsões mais diversas.
A gula está mais à mão,
mais fácil de ser alcançada.
Comemos mais que queremos e que precisamos.
Voltamos à fase oral , por assim dizer.
A toxicomania, a adição pode nos levar
ao alcoolismo, tabagismo e a muitas
performances aditivas, alimentadoras e destruidoras
de um ego performático.
A luxúria : sexo pelo sexo, sem prazer, sem amor,
sem referências à preservação da espécie,
mendigando amor e coração, sem amor próprio,
nem caindo em si sobre a própria miserabilidade.
Essa obstrução da vontade pelo medo,
leva a inação subsequente, a indecisão,
a estagnação do pensamento.
Perdemos as oportunidades,
somos levados à letargia e ao non-sense.
São esquecidas por nós todas as responsabilidades
por nossos mais comezinhos atos.
Os parasitas da energia vital, espirituais, não materiais,
nos conduzem à paulatina destruição de nossa forma física
e por consequência da nossa existência terrena, de maneira precoce,
o que é incompreensível aos olhos de nossos pares.
Geraldo Felix Lima
Belo Horizonte
10/06/2011
