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Psicanálise de um conto de fadas
Histórias de fadas possuem construção simbólica particular. As personagens pertencem à faixa etária adolescente.
Elas perpassam sempre por difíceis situações na travessia infância/puberdade.
O final será vitorioso, porque a criança resolverá enigmas e controvérsias desse angustiante período.
Poderíamos falar falar dos artifícios utilizados pelos escritores para auxiliar a juventude. Preferimos analisar a estratégia perraultiana.
- Prepare-se.
A capa vermelha de Chapeuzinho representa, em tal engenho e arte literária, a menstruação.
Uma vez consolidada, surge o lobo, aquele ser imprudente que anseia ‘comer’ a linda garota.
Observem-se aí importantes detalhes. Chapéu leva bolos para a vovó. Então? Que alimento apetitoso, hein?
O animal faminto encoraja-se. Sortudo, encontra exatamente aquele petisco a satisfazer-lhe o instinto manipulador, selvagem.
Sua fome contém ampla dimensão: precisa do saber antigo mais o sabor novo. Mesmo sendo velha, pretende também deglutir a vovó.
Certamente, nosso leitor já percebeu o significado da floresta.
Ir pela estrada afora tão sozinha constitui-se ato perigoso de coragem e astúcia. Identifica-se com habilidade, autoconhecimento, defesa.
Há espinhos, fantasmas, silêncio interior, por enfrentar. ‘O caminho é longo e muito deserto’, canta a menina.
Onde encontrar força para seguir em frente?
Ah, claro, na bem constituída e sólida família.
Lendo o conto de forma positiva, a figura materna concede à criança liberdade de escolha. Permite à filha lutar pelo seu ideal.
No caso, Chapéu objetiva chegar triunfal à casa da maturidade (vó).
Até aqui, localizamos dois parentes.
- E o terceiro? Adivinhe! Isso. Trata-se do caçador/papai.
Entra em cena justo no ápice da trama.
Bota o sensual indivíduo bicharoco pra correr. Desempenha, na peça, papel forte, amoroso, masculino.
- The End?
Que nada! Agora, Charles Perrault interroga à autora Paula Simões:
- Meu livro lhe interessa, querida? Acrescentaria algo nele?
Com sorriso inteligente, ela recebe as luvas e se lança ao desafio.
- Vamos andar juntos, senhor.
Primeiro, mostra à princesinha todas as dificuldades e possíveis soluções frente à frente com lobos bons, falsos, maus.
Segundo, descreve os necessários cuidados para com a intimidade física, mental, socializante.
De mãos dadas com nossa pequena atriz, a experiente fada psicóloga transforma pedras em rosas.
- Vamos. Vamos. Devagar, pois tenho pressa.
Antes de enfrentar o comilão, diz à passageira:
- Melhor colocar tantos bolos gostosos na mochila. Use um cadeado ali, por enquanto.
O que acha de conversar com alguém de sua confiança sobre seus problemas ?
Prosseguem a viagem.
- Por aqui. Evitemos ameaças, mudando a rota. Bom dia, caçador.
Enfim, aparece o príncipe desencantado.
Lobão bobão foge para o raio do mato que o parta.
Vovó e mamãe enfeitam a noiva. Chega o valente caçador, a fim de conduzi-la à felicidade.
Casam-se Chapeuzinho Vermelho e realização pessoal. Festança.
Quem quiser, peça licença, imagine o futuro hoje. Aliás,
- Aceita um pedaço do bolo, delicioso convidado?
Graça Rios