PSICANÁLISE DE UM CONTO DE FADAS - GRAÇA RIOS




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  • Psicanálise de um conto de fadas

     

    Histórias de fadas possuem construção simbólica particular. As personagens pertencem à faixa etária adolescente.

    Elas perpassam sempre por difíceis situações na travessia infância/puberdade.

    O final será vitorioso, porque a criança resolverá enigmas e controvérsias desse angustiante período.

    Poderíamos falar falar dos artifícios utilizados pelos  escritores para auxiliar a juventude. Preferimos analisar a estratégia perraultiana.

    - Prepare-se.

    A capa vermelha de Chapeuzinho representa, em tal engenho e arte literária, a menstruação.

    Uma vez consolidada, surge o lobo, aquele ser imprudente que anseia ‘comer’ a linda garota.

    Observem-se aí importantes detalhes. Chapéu leva bolos para a vovó. Então? Que alimento apetitoso, hein?

    O animal faminto encoraja-se. Sortudo, encontra exatamente aquele petisco a satisfazer-lhe o instinto manipulador, selvagem.

    Sua fome contém ampla dimensão: precisa  do saber antigo mais o sabor novo. Mesmo sendo velha, pretende também deglutir a vovó.

    Certamente, nosso leitor já percebeu o significado da floresta.

    Ir pela estrada afora tão sozinha constitui-se ato perigoso de coragem e astúcia. Identifica-se com habilidade, autoconhecimento, defesa.

    Há espinhos, fantasmas, silêncio interior, por enfrentar. ‘O caminho é longo e muito deserto’, canta a menina.

    Onde encontrar força para seguir em frente?

    Ah, claro, na bem constituída e sólida família.

    Lendo o conto de forma positiva, a figura materna concede à criança liberdade de escolha. Permite à filha lutar pelo seu ideal.

    No caso, Chapéu objetiva chegar triunfal à casa da maturidade (vó).

    Até aqui, localizamos dois parentes.

    - E o terceiro? Adivinhe! Isso. Trata-se do caçador/papai.

    Entra em cena justo no ápice da trama. 

    Bota o sensual indivíduo bicharoco pra correr. Desempenha, na peça, papel forte, amoroso, masculino.

    - The End?

    Que nada! Agora, Charles Perrault interroga à autora Paula Simões:

    - Meu livro lhe interessa, querida? Acrescentaria algo nele?

    Com sorriso inteligente, ela recebe as luvas e se lança ao desafio.

    - Vamos andar juntos, senhor.

    Primeiro, mostra à princesinha todas as dificuldades e possíveis soluções frente à frente com lobos bons, falsos, maus.

    Segundo, descreve  os necessários cuidados para com a intimidade física, mental, socializante.

    De mãos dadas com nossa pequena atriz, a experiente fada psicóloga transforma pedras em rosas.

    - Vamos. Vamos. Devagar, pois  tenho pressa.

    Antes de enfrentar o comilão, diz à passageira:

    - Melhor colocar tantos bolos gostosos na mochila. Use um cadeado ali, por enquanto.

    O que acha de conversar com alguém de sua confiança sobre seus problemas ?

    Prosseguem a viagem.

    - Por aqui. Evitemos ameaças, mudando a rota. Bom dia, caçador.

    Enfim, aparece o príncipe desencantado.

    Lobão bobão foge para o raio do mato que o parta.

    Vovó e mamãe enfeitam a noiva. Chega o valente  caçador, a fim de conduzi-la à felicidade.

     Casam-se Chapeuzinho Vermelho e realização pessoal. Festança.

    Quem quiser, peça licença, imagine o futuro hoje. Aliás,

    - Aceita um pedaço do bolo, delicioso  convidado?

     

    Graça Rios