• PAIXÃO E GLÓRIA

     

    Abre-se diante de nossos olhos, a partir do Domingo de Ramos, toca em nosso coração, ao contemplarmos os passos percorridos por Jesus e provoca profundamente nossa fé a  celebração da Páscoa. Acolhamos o que diz Santo Atanásio: “Está próximo de nós o Verbo de  Deus, nosso Senhor Jesus Cristo, que se fez tudo por nós, e promete estar conosco para  sempre. Ele o proclama com estas palavras: ‘Eis que eu estarei convosco todos os dias, até  ao fim do mundo’ (Mt 28,20). E porque quis fazer-se tudo para nós, ele é o nosso pastor,  sumo sacerdote, caminho e porta; e é também a nossa festa e solenidade como diz o  Apóstolo: ‘O nosso Cordeiro Pascal, Cristo, já está imolado’” (1Cor 5,7) – (Das Cartas pascais  de Santo Atanásio, bispo Séc. IV - Ep.14,1-2:PG26,1419-1420). As celebrações que estamos  iniciando não são manifestações culturais, ainda que incidam decididamente na cultura de  cada região. Trata-se de um memorial, com o qual acontece a presença do Mistério Pascal de  Cristo que é celebrado, em sua Morte, Ressurreição, Ascensão e o dom do Espírito Santo no  Pentecostes, o presente por excelência do próprio Ressuscitado, com todos os seus frutos.

     Ao acompanhar nestes dias a Paixão e a Glória do Senhor, recebam todos os irmãos e  irmãs o convite a seguir o Senhor, que continua caminhando à frente dos discípulos de ontem  e de hoje, a partir dos caminhos próximos de Betânia e Betfagé, para acompanhá-lo em  Jerusalém. E todos, enquanto Jesus passa, estendam os mantos de sua fé pelo caminho.  Continuemos a proclamar cheios de alegria, o louvor a Deus. Que todos exclamem: “Bendito  o Rei, que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas alturas!” Estejamos convictos de  que se a multidão se calar, ‘as pedras gritarão’”! (Cf. Lc 19,28-40).

    Somos convidados a percorrer cada passo da Semana Santa, Semana Maior, com  olhares diferentes e complementares. No Domingo de Ramos, a glória se manifesta no  acolhimento de Jesus em nossas cidades e casas. Sejam Nova Jerusalém que recebe o  Senhor! Deixemos que caiam todas as nossas resistências à presença do Salvador. Purifiquese nosso interior e deixemos que os Ramos, colocados por muitas pessoas em lugar de honra  das casas, sejam sinais da aclamação a Jesus Salvador. Portas abertas das casas e dos  corações! Portas abertas para acolher quem vem de longe, quem é frágil e pecador, os mais  pobres e abandonados. Sejam bem recebidos no coração da Igreja e em nossos corações.

     A Semana Santa continua com três dias nos quais os chamados cânticos do Servo Sofredor (Is 42,1-7; Is 49,1-6; Is 50,4-9) nos fazem contemplar a figura do Cristo em sua  paixão anunciada no Antigo Testamento. Os Evangelhos proclamados nestes dias nos  introduzem no drama, um mistério de amizade, discipulado e ao mesmo tempo fragilidade,  negação e traição. Simão Pedro, João, Judas, os demais apóstolos, todos entram em cena  para nos provocar à participação nos acontecimentos. Ninguém seja espectador indiferente,  mas todos desfrutem o caminho de santidade que é proposto, em meio a tanto mistério e até  indignação! Todos tomem partido de Jesus, nosso Senhor, cujo processo começou como um  réu, para chegar a ser juiz no alto da Cruz e na Ressurreição! Estamos no mistério da Paixão  e da Glória!  

    A Quinta-feira Santa começa de um modo diferente. Reunida na Catedral da Sé, a  Igreja celebra a sua unidade, simbolizada na Consagração do Óleo do Crisma, a Bênção dos  óleos dos Catecúmenos e dos Enfermos, assim como a renovação dos compromissos dos  sacerdotes. Todas as Paróquias se fazem representar, e os respectivos Párocos recebem dos  Vigários Episcopais os recipientes com os Óleos Sacramentais, a serem apresentados ao povo  na Vigília Pascal.

    Tudo pronto para a Páscoa, que é celebrada com um Tríduo revestido da máxima  dignidade e solenidade. Celebramos em primeiro lugar a Páscoa da Ceia, que começa com  um convite positivamente provocante: “A Cruz de nosso Senhor Jesus Cristo deve ser a nossa  glória: nele está nossa vida e ressurreição; foi ele que nos salvou e libertou” (Cf Gl 6,14).  Paixão na Cruz e a Glória! Serviço humilde no lava-pés, proclamação do mandamento novo  do amor no Sermão do Mandato, instituição da Eucaristia e do Sacerdócio Ministerial! Um  jogo infinito de amor, doação de vida que permanece no Mistério da Morte e Ressurreição do  Senhor, todas as vezes que comemos deste Pão e bebemos deste Vinho, Corpo e Sangue de  Jesus Cristo, Sacrifício que se renova, Presença Real, Plena Comunhão com Cristo e com os  irmãos!

     Ao entrar na Igreja na Sexta-feira Santa, terá desaparecida a cor roxa da Penitência.  Entra em Cena o Vermelho do amor que se doa, da coragem e do martírio, a Glória que se  alcança passando pelo mistério da Cruz, da Dor e do Abandono experimentado por Jesus em  sua imolação. Esta é a Páscoa da Cruz! Páscoa é passagem, e não há Redenção sem  derramamento de sangue. “Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão”. E na  Cruz de Cristo, todos estávamos presentes. Nela a nossa Salvação, nossa Vida, nossa  Liberdade. É a vitória e a glória da Cruz.

     Sábado Santo é dia de silêncio e meditação. Recolhemos os perfumes das virtudes e  nosso desejo de crescer na vida cristã, para ungir espiritualmente o Corpo do Senhor.  Vigiemos à porta do sepulcro, com as piedosas mulheres que souberam regar com suas  lágrimas a esperança do Terceiro dia!

     E chega a Páscoa da Ressurreição, celebrada primeiro na Igreja com a grande e solene  Vigília. Nós comemoramos vitória de Cristo sobre o pecado e a morte com a Liturgia da Luz,  na Bênção do fogo novo, o Círio Pascal e a Luz de Cristo resplandecendo em nossos templos.  Como em nenhum outro dia, celebramos a Liturgia da Palavra, com a memória cheia de  gratidão pelos feitos do Senhor na História da Salvação, para chegar ao Evangelho da  Ressurreição, precedido do Aleluia festivo. Segue-se a Liturgia Batismal, com a Bênção da  Água, a aspersão do Povo, os Sacramentos do Batismo e da Confirmação de jovens e adultos!  Nossa Páscoa chega ao seu cume, para ser fonte de toda a vida cristã que dela será fruto, na  Liturgia Eucarística, quando comungamos o Corpo Entregue e o Sangue Derramado de Nosso  Senhor Jesus Cristo. Seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade nos sustentam para dar  testemunho de seu amor, com uma vida renovada e transformada! Assim preparados,  vivamos com intensidade a Semana Santa.

    Dom Alberto Taveira Corrêa

    Fonte: www.arquidiocesedebelem.org.br