ESCRITOS HELÊNICOS - PARÁBOLA DA CADEIRA E DO MARCENEIRO
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Parábola da cadeira e do
marceneiro (*)
Eu me lembro, meu senhor!
Da velha parábola da cadeira
Gasta desbotada, um horror!...
Com manchas... Quebrada...
Toda suja e estragada...
E sem ninguém que a queira.
Pés frágeis, raspões...
Difícil de lembrar
Como antes era.
Mas, amigo, queria tudo lhe contar...
Mas tudo mesmo eu quisera.
Foi um dia... Um belo dia...
Cai nas mãos de um marceneiro.
E ele a olha... Por inteiro...
E dá um sorriso
De dor e de alegria.
E a pintura começa a raspar.
E vai cantarolando...
Cantarolando à sua maneira
Suas mão vão acariciando
E limpando-a toda e inteira.
A cadeira, com seu canto, se acalma
E não sabe o que pensar.
E o velho marceneiro, devagar,
Com seu trabalho e alma
Continua... Continua a lixar.
* - Está errado, marceneiro!
Fiel a seu trabalho...
Continua a trabalhar.
E, pouco a pouco foram aparecendo
Cores antigas: preto, vermelho, branco, amarelo, verde...
-Ah! Cadeira! Vem o velho dizendo:
- Em tua cor primeira, quero ver-te.
Ia percebendo a cadeira a mudança
Que aos poucos ia acontecendo.
Sua cor... Meu Deus! De criança!
Devagar, ia aparecendo.
- Está errado, marceneiro!
- Está errado, marceneiro!
Muitos já gritavam
Se enfurecendo.
E a lixa, altaneira, esfregava
A madeira que ressurgia tão bela!
Era agora uma nova cadeira.
Era sim, verdadeiramente ela.
Pronto!... Ei-la por todos elogiada,
Firme, majestosa, com nova vida.
O velho marceneiro?... Ah!
Sua figura jaz esquecida.
Mas o marceneiro
Com profético olhar...
Olha em volta, altaneiro...
Viu que chegara sua hora.
E foi saindo... Sem se voltar...
Foi saindo... Foi saindo...
E foi-se embora.
Aquele que a tudo
A todos soube amar.
Heleno Célio Soares
(*) Este poema é uma recriação, uma paráfrase de um texto em prosa, que encontrei, e sem indicação de autor.
É uma crítica às injustiças que se cometem contra tantos educadores que, depois de darem sua vida pela educação, são desconsiderados por tantos.
Extrapola-se sua interpretação para quaisquer trabalhadores.
