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Tributo a Adilson
Estar reunidos aqui, hoje, é para todos nós motivo de muita alegria.
Diz a canção que “Recordar é viver, eu ontem sonhei com você”. Como são bons esses reencontros: reviver, reviver, chorar e rir de todas as lembranças.
Chegar aqui e rever amigos “sexys” – velhos amigos de quase ou mais de sessenta anos do primeiro convívio, aqueles rapazolas de calça curta, cabelos quase raspados, timidez excessiva e uma ardente vontade de trabalhar em prol da Igreja – cada um de nós trazia, muito puro no coração, esse desejo: SER PADRE.
Com o passar do tempo, aos poucos, nossas vidas tomaram outros rumos. Muitos deixaram o Seminário antes de ingressar no curso superior, outros já quase concluindo o curso de Filosofia e Teologia, e alguns perseveraram em suas vocações – hoje são padres.
Nós, os padres gorados, temos muito presente em nossas vidas o comprometimento com os estudos, o trabalho e a família, o conhecimento, a fé, o espírito de partilha, honestidade e solidariedade, entre outros valores que recebemos no Seminário.
Como dizem muitas de nossas esposas, quando estamos juntos até nos esquecemos delas, tamanha a alegria do reencontro. Como no futebol, elas são jogadas para escanteio. Não é maldade. É uma volta ao tempo perdido, a um período em que elas ainda não existiam e nem faziam parte dos nossos sonhos.
Hoje, especialmente, queremos nos lembrar dos amigos que foram se encontrar com Deus. Decerto, hoje lá do céu, eles nos acompanham e deve estar um alvoroço danado – como aqui em baixo, no momento da nossa chegada ao Seminário, do nosso reencontro.
Quantos nos precederam: Padre Antoniazzi, Padre Ferreira, Saturnino, Josias, Monsenhor Augusto Pinto Padrão, Anderson Gandra, Padre João Bosco Caixeta, Daniel Alvarenga...
Nossa oração, na celebração da Santa Missa, estendeu-se a todos eles. Hoje, queremos prestar um tributo ao querido ADILSON, a quem devemos o retorno aos encontros de agora. Não fosse o apoio de muitos de nós, não estaríamos aqui.
Ele, já doente, convocou a turma, pôs fogo em todos, reavivou essa chama um pouco apagada e não sossegou enquanto não viu o empenho de todos. A alegria, sua marca pessoal, nos contagiou. O reencontro foi uma festa de alegria e fraternidade – uma classe de saudades. Padre Reginaldo expressou-se muito bem, quando disse: “Para mim, esses meninos são os mesmos do tempo do Seminário. Só mudaram a voz”.
Padre Reginaldo conseguiu ver em cada um de nós aqueles meninos que fomos, cada um com sua característica peculiar- o mesmo menino de ontem, com a voz de hoje.
A partida de Adilson tocou fundo nossos corações. Temos que lembrar sempre de sua alegria contagiante, da capacidade de receber todos, anfitrião que era, da fartura em sua mesa, do sorvete de limão e do abacaxi, das muitas molecagens e piadas, da linda e rompante voz, do cantar com a alma e também de não queixar-se, lamuriar-se, reclamar de dores, quando doente.
Seu desejo era lutar – ele queria viver mais 10 anos, tinha tantos planos, tantos sonhos. Mas Deus o quis com Ele. No dia 1º de julho, a dor da partida tomou conta de nós e o céu abriu-se em festa. Imagino a alegria de Nossa Senhora ao receber seu devoto tão querido que, quando da construção do sítio, entregou à Mãe Celestial, a entrada de sua casa e tudo o que nela tinha aos seus cuidados. Quando lhe perguntávamos se ele não temia ficar sozinho lá, ele mostrava com os olhos brilhantes a porteira e dizia: “Nossa Senhora está lá” e, na varanda, ele rezava o terço, com os olhos fixos na estrada. Se no céu o terço é rezado, Adilson deve estar lá juntinho de Nossa Senhora, orando por nós. O que fazer? Como reagir à partida do amigo? É doloroso, mas só nos resta viver de boas recordações e saudade.
Recebi de um membro da Exsecordis a história que narrarei. Ela me lembrou muito de Adilson e eu acho que vocês vão concordar comigo. Ouçam, por favor:
“Um homem que assiduamente comparecia às reuniões de um grupo de amigos, sem comunicar a ninguém, deixou de participar dos encontros. Depois de algumas semanas, um amigo, integrante do grupo, decidiu visitá-lo. Era uma noite muito fria. O amigo o encontrou em sua casa, sozinho, sentado diante da lareira, onde o fogo estava brilhante e acolhedor. Adivinhando o motivo da visita, deu as boas vindas ao amigo e, aproximando-se da lareira, ofereceu-lhe uma cadeira grande em frente à chaminé e ficou quieto, esperando. Nos minutos seguintes, total silêncio. Os dois admiravam a dança das chamas, em volta aos troncos de lenha que queimavam. Depois da observação, o visitante examinou as brasas que se formaram e, cuidadosamente, escolheu uma delas, a mais incandescente de todas, empurrando-a para fora do fogo. Sentando-se novamente, permaneceu silencioso e imóvel. O anfitrião prestava atenção a tudo, fascinado e também quieto. Dentro de pouco tempo, a chama da brasa solitária diminuiu, até que, após um brilho discreto e momentâneo, apagou-se. O que antes era uma festa de calor e luz, agora não passava de um frio, morto e preto pedaço de carvão recoberto de cinza. Nenhuma palavra tinha sido pronunciada desde a saudação inicial entre os dois. Antes de preparar-se para ir embora, o amigo movimentou novamente o pedaço de carvão já apagado e colocou-o novamente no meio do fogo. Imediatamente, o carvão voltou a desprender uma nova chama, alimentado pela luz e calor das labaredas dos outros carvões em brasa ao redor dele. Quando o amigo aproximou-se da porta para partir, o anfitrião lhe disse: OBRIGADO PELA SUA VISITA E POR SEU ENSINAMENTO. Retornarei ao grupo que muito bem me fez .”
Adilson é para todos nós esse amigo. Sempre se esforçou para agrupar, reunir, criar oportunidades de momentos juntos. Ele não media esforços para promover encontros e era só alegria.
Agora, com a partida dele para o céu, resta-nos sempre lembrar que também somos responsáveis em manter acesa a chama da AMIZADE entre cada um de nós e de promover a união entre todos, para que o fogo seja sempre forte, eficaz e duradouro.
Adilson partiu, mas em nossos corações ficaram gravadas suas palavras, seu exemplo, sua fé, sua bondade, sua organização, sua alegria e seu desprendimento. Cada um de nós guarda uma lembrança, uma palavra, um gesto dele no coração. Deus o chamou. A dor da saudade fica apertando, mas não podemos contradizer os desígnios de Deus. Perdemos um grande amigo, mas temos certeza de que, no céu, temos mais um santo. E que santo, velando por todos nós!
XIV Encontro da EXSECORDIS
Agosto/2019
Betty Lopez da Silva (Esposa do Aluísio Eustáquio da Silva)
Tributo a Adilson
Julia Antunes - filha do Adilson
Wagner fala de Adilson