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    LASER

    Corria o ano de 1982. Lecionava para o segundo grau – curso médio, no Colégio ... Os alunos tinham em média 15, 16 anos. Hoje, sem dúvida a pessoa, personagem deste acontecimento, tem mais um menos 55 anos. De vez em quando nos encontramos. Ele ainda ri do fato acontecido e diz que até hoje os colegas que ainda o conhecem se lembram do que houve.

    Um fato, um gesto, uma brincadeira, um não sei lá o quê e, de repente, o apelido. Naquele tempo, apelido era comum e ninguém se molestava com isso. Hoje? Deus me livre! E os apelidos da época acompanham o possuidor durante muito tempo, às vezes, até hoje. Já tive alunos que continuaram com os apelidos e com eles permanecem.

     “Chuvinha, Zeus,  Tarzan, Winds,  Laser, Vovozinho, Almirante”...

    Assim aconteceu em 1982 em minha sala de aula. A sala de aula estava pedagogicamente animada. Discutia-se e interpretava-se determinado texto e, através do mesmo, fazíamos interdisciplinaridade. O que hoje é difundido em aulas de pedagogia, livros sobre o assunto, imposição de pedagogos, antes era tão comum e simples.

    Foi assim: No texto surge...“e então houve a necessidade do uso do “raio

    laser”.

    Pergunto ao simpático grupo o que era e o que significava “raio laser”.

    Silêncio absoluto rondou a sala. Um sorriso maroto, depois uma piada e

    diante do olhar irônico do professor Heleno... Ah!  Surge uma figura e uma voz.

    - Eu sei professor! Vale meio ponto?

    - Claro! Uma boa resposta sempre será valorizada!

    - Olha professor. Nos meados de nosso século, um grupo de cientistas americanos, numa determinada universidade dos Estados Unidos, me parece que a universidade era em Oxford,  fazendo observações em especifico laboratório, descobre o princípio ativo do respectivo raio.

    Os colegas de turma estupefatos com a “sabedoria” do colega. E eu.. Não sabia se ria,  se o xingava, se o chamava de cara-de-pau...

    - Como assim,  Marcos?

    - Ah! Professor! A equipe era comandada pelo cientista Robert Laser. Daí então ... Homenagem ao cientista. Assim, o raio descoberto passou a ser

    chamado de “raio laser”.

    Os colegas  estavam encantados com a facilidade de Marcos discorrer sobre o assunto. Marcos sentou-se sério e “doutor” sob os aplausos da classe.

    Faltando dois minutos para o término da aula, o professor, este que lhes escreve, olhou profundamente para o “doutor”, para a turma e ironicamente dirigiu-se ao quadro negro ( que era verde).

    Escreveu, verticalmente, no quadro, com letras garrafais.

     

    L

     

    A

     

    S

     

    E

     

    R

     

    Olha para o grupo, maldosamente sorri, olha para o relógio... Vai dar o sinal... Vira-se para o quadro e rapidamente completa:

     

    L ight

     

    A mplification

     

    S ight

     

    E nduring by

     

    R adiation

     

     -“LASER”, queridos alunos, é abreviatura. Entenderam?

    -  “LASER”, querido Marcos, é a vó, viu?

    E saiu apressado com a campainha que o chamava para outra aula. E atrás, no corredor, as gargalhadas dos colegas alunos. E, enquanto eu lecionei, o adolescente conviveu com um segundo nome: Mister Laser.

    Nunca ficou com raiva. Ria também disso, este cara-de-pau. Tratava-me

    educadamente e ainda fazia reverência e sorria de maneira jocosa.

    O que houve com ele? Ah! Hoje é deputado federal e já foi nosso deputado

    estadual. Tá explicada sua  ascensão na política, não está?

     

    Heleno Célio Soares