•  

     

    TEMPO DE CHUVA

                                                                                                          

                  

    Olhei para o céu, no automático. Minha mulher me disse que eu achava que ia chover, mas  não ia. Você acha que entende de chuva, não entende. Já lhe disse. Nuvens de chuva são escuras, ou escuras com beiradas brancas. Tipo aquelas das igrejas barrocas que ficam nos pés dos anjinhos. Meu pai ficava assuntando o céu um tempão -continuou- só depois ele falava que a gente poderia ter chuva. Poderia. Ele nunca afirmava com certeza. Aí vinha aquele pé de vento , quase derrubando as árvores ou querendo arrancar as telhas da casa. Trovões com raios. Os bichos correndo para se esconder. Cães mais medrosos tremendo. As serras branqueando ao longe. O chuá da chuva chegando. O tamborilar grosso e fino nas telhas. Chuva de ventos chegando em camadas, fria nas costas de quem não tinha se escondido a tempo. Os cavalos e bois escorrendo água. Então, meu pai dizia que  tinha falado que ia chover, depois da chuva chorando no telhado, a enxurrada correndo no quintal, as goteiras pingando pela casa, nós atrás de baldes e bacias.

                 

     

    Ele ria e dizia que sinal de chuva é goteira, barro nas botas e a roupa secando na frente do fogão de lenha. Você entende pouco de chuva, sempre erra. Ainda bem que você não trabalha no serviço meteorológico. Então minha mulher  ri e me diz que não precisa do guarda-chuva nem da sombrinha porque não vai chover. Eu dou de ombros  e digo:

                 

    - Você que sabe.

     

    Geraldo Felix Lima

    Confins – 07/02/2022