FELIX SCRIPTA - RETRATO DE UM, CASAL




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    RETRATO DE UM CASAL

     

     O  retrato chegou pelo correio. Não me lembro se uma carta o acompanhava. Com certeza, sim. Todos nós de casa o admiramos e olhamos mil vezes. Minha irmã Dica e meu cunhado Almerindo abraçados. Primeira foto depois de casados. Na época, 1958, não havia fotógrafos nem máquinas fotográficas ao alcance de todos. Aquela fotografia foi tirada quando eles provavelmente passaram por Belo Horizonte a caminho de Cachoeira do Campo onde  ele estava morando com sua mãe Dona Maria. A felicidade estava estampada no retrato. Um casal feliz, talvez ainda não sabendo como seria o futuro, mas confiantes e apaixonados. Depois de admirarmos o casal por todos os ângulos e matarmos a saudade da nossa irmã distante, a fotografia foi guardada no envelope e embrulhada em papel pardo , que não amassasse e não tivesse nenhum arranhão , por agora e para sempre. Meus pais quase estouravam de contentamento. Nós, irmãos , alegres por eles ou com eles. Felizes que nossa irmã tivesse casada com um homem trabalhador, sério e de compromisso. Meu cunhado prometera a meu pai que sempre mandaria notícias e isto ele estava cumprindo , enviando aquela foto dos dois juntos e felizes.

               

     Meu pai mostrou a todos que vieram até nossa casa naquela semana. Vinham por motivos diversos : sapatos para consertar, encomenda de colchões, fazer excrituras particulares ou apenas para nos ver. Todos tinham um elogio para minha irmã e uma boa lembrança dela. A minha mãe estava numa alegria manifesta, ela que era sempre contida e ponderada.

                

    Passados dois ou três dias meu pai me incumbiu de levar e mostrar a fotografia para minha irmã mais velha e meu outro cunhado chamados de Maria de Nenem e Nenem de Maria, ou Maria de Zé Remundo e Nenem do Zito. A casa deles distava uma légua da nossa. Lá fui eu vivendo e revivendo as primeiras emoções que tinha tido quando vi o retrato pela primeira vez.

               

     Cheguei cedo à casa deles, tempo de cumprir a missão e retornar. Quanta alegria para aquele inesperado evento. Na foto Dica com seu lindo vestido de bolinhas azuis, decote comedido, vestido bem rodado. O marido de terno e gravata. Ambos descontraídos, esboçando um gostoso sorriso. Com as recomendações de praxe comecei o caminho de volta.

                 

    Não sei se meu pai tinha mandado mas resolvi passar na casa da sua comadre Dona Zinita Barbosa  e até na casa dos Brejaúba eu fui para mostrar o retrato.

                

    Cheguei em minha casa já passando das quatro horas da tarde completamente realizado com a missão que cumprira. Aí me dei conta de que realmente aquela irmã com que mais eu convivi não estava mais conosco, estava longe e me veio uma vontade danada de vè-la e abraçá-la. Descobri então que isso ia demorar um bom tempo para acontecer.

     

    Geraldo Felix Lima

    Confins – 02/02/2022