• Pra te dizer

     

     

    Pra te dizer

     

    Pra te afirmar até perder a conta

     

    Aqui, encostado nesta cadeira fria...

     

    Em frente à tela do computador...

     

    Tão resignado.

     

     

    E minhas mãos, já sobre a nuca,

     

    Já sem a paciência que madura notícia

     

    E também sem a paciência que alimenta rimas.

     

     

    Assim espero o édito imperial:

     

    Ou a paciência da borboleta saindo do casulo.

     

    Escuto longe o tanger do trenó que avança.

     

    E me desperto do sono.

     

    Vejamos:

     

    Há ali uma pedrinha na ponte.

     

    Há acolá o cristal não recebido.

     

    Há lugares ocupados.

     

    Até existem corações recrutados.

     

    Mais adiante, uma bordadeira que borda.

     

    Montões rosados,

     

    Também milagres.

     

     

    Os incêndios, muitos e vários,

     

    As inundações, muitas e várias

     

    Constam de nossas listas,

     

    Dos  nossos quadros emoldurados,

     

    De  nossos versos desconexos.

     

     

     

    Está aí a imponderável visão,

     

    Com revoadas que parece chicote.

     

    Mesmo assim, tento erguer voo. E vou.

     

    Como o som do pandeiro rasgando céus.

     

    Lá, distante, ainda ouço

     

    As trombetas de Jericó.

     

    Heleno Célio Soares