ENTREVISTADO DO MÊS DE MAIO



  • ENTREVISTADO DO MÊS DE MAIO

     

    PINGUE PONGUE COM JOSÉ ANTÔNIO CARDOSO  (CARDOSO)

     

    1) Como foi sua infância em Nova Lima e como foi sua ida para o Seminário Coração Eucarístico?

    R: Nascido em Nova Lima em 1946, vivi com meus pais, Romeu Cardoso e Alair Ribeiro Cardoso e minhas 4 irmãs. Nesse período, frequentei a escola primária, participei da “cruzada” e da equipe de coroinhas da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar. Incentivado pelo Padre Rafael Martins,  interessei-me  pela carreira sacerdotal e, ao terminar o curso primário,, fui encaminhado para o Seminário Coração Eucarístico de Belo Horizonte, em Fevereiro de 1958.

    2) Você e Dom Alberto Taveira são da mesma cidade.Foram amigos e coroinhas na mesma igreja?

    R: Durante os anos de 1958 e 1959, fui o único seminarista de Nova Lima. Em 1960, Padre Rafael encaminhou outros onze coroinhas da cidade para o Seminário, dentre os quais, Alberto Taveira Corrêa, o “Betinho”. Formamos um grupo de bons amigos  conterrâneos e realizamos diversas atividades em conjunto na nossa região, durante as férias e fins de semana. Esse grupo aos poucos se desfez, devido às desistências. De Nova Lima, somente Alberto e eu seguimos rumo ao sacerdócio, contando com o apoio do então pároco, Padre Osvaldo Barbosa Penna. Padre Rafael se tornara vice-reitor do Seminário.Com a minha desistência em 1970, Alberto, sempre dedicado e carismático, seguiu a carreira de forma brilhante, como todos sabemos.

    3) Quais suas melhores lembranças daqueles anos como seminarista?

    R: Meus doze anos de seminário foram abençoados. Ali, recebemos uma formação acadêmica, cívica religiosa, humana e disciplinar do mais alto nível, integrada à prática de várias modalidades de esportes, música, teatro, ofícios,  etc. Aprendemos a conviver e interagir com colegas de diversas origens e costumes, a trabalhar em equipe, respeitando a maneira de ser de cada um. Todos esses valores trago pela vida inteira e repasso com orgulho aos mais novos.

    4) Saudades de quais Professores? E colegas?

    R:Convivi com dezenas de professores, regentes, reitores, administradores, funcionários, dos quais guardo gratas e saudosas lembranças. Alguns, já falecidos, outros ainda entre nós, mas distantes e sem contato. Cito alguns nomes: padres:  Pinho, Freitas Candinho, Aguiar, Aloísio, Ribeiro, Augusto ,Paulo Belém, Gonçalo Belém, Arnaldo, Paulo Lopes, João Batista, Rafael, Sebastião Roque, Alberto Antoniazzi, Antônio Gonçalves, Vicente Cornélio, e outros; colegas: Joaquim Luis, Agissé, Cristóvao, Lásaro, Ener, Chicão, Walter Paes, Sérgio Paes, Henrique Arinos, José Orlando, Geraldo Tadeu, Anderson, Paulo Crook e outros.

    5) Depois, você estudou no Instituto Central de Filosofia e Teologia. Acha que foi uma experiência válida na formação seminarística?

    R: O Instituto Central de Filosofia e Teologia, dirigido pelo competente e dedicado Padre Antônio Sérgio Palombo, foi, a meu ver, uma experiência válida, porquanto buscou integrar, em um curso de 12 semestres, as duas especialidades intercomplementares essenciais na formação do sacerdote.

    6) A república da Rua Zurique, número 51, marcou sua vida?

    R: Marcou muito, pois foi um desafio para nós (Vital, Chicão, Henrique, Josias, Dimas e eu). Saímos do conforto das dependências do Seminário para uma pequena casa, sob nossa responsabilidade. Vivemos ali muitas dificuldades e também alegrias. Aprendemos a administrar uma casa e exercitar nossas relações interpessoais. Lembro-me das serestas, dos banhos de caneco devido à falta d’água, dos cigarros do Chicão que desapareciam misteriosamente, das revistinhas de sacanagem, dos pastéis amassados no sovaco vindos das comemorações realizadas na “Revista dos Municipios”, gentilmente trazidos pelo José Vital , e outras coisas mais.

    7) Em tempos pós-Concilio Vaticano ll, você e Rejane celebraram um casamento ecumênico na capela Metodista do Izabela Hendrix, que perdura como exemplo para os cristãos. Conte sua experiência.

    R: O casamento ecumênico em 1972 teve sua cerimônia preparada pelo então diácono, Alberto Taveira, e foi oficiado pelo Padre Arnaldo Ribeiro e o Pastor Márcio, da 2ª Igreja Presbiteriana. Tendo sido novidade em Belo Horizonte, marcou a tendência de integração entre religiões cristãs, até então distanciadas entre si pela rivalidade. Foi , ainda, fator importante na remoção de barreiras entre grupos familiares de tradições religiosas diferentes. Até hoje, Rejane e eu vivemos em harmonia e respeito aos princípios religiosos de cada um.

    8) Fale Também da sua Familia.

    R: Temos duas filhas, Ana Paula, casada com Carlos Eduardo, ambos formados em Direito e oficiais de Justiça da comarca de Nova Lima. Raquel, formada em psicologia, trabalha como psicóloga na Fundação de Assistência ao Excepcional de Nova Lima. Geraldo Salim, esposo da Raquel, engenheiro mecânico, trabalha em uma construtora em São Paulo, e visita a família periodicamente. Nossos netos, Mariana 13 anos, filha de Ana Paula e Carlos, e Lucas 7 anos, filho de Raquel e Geraldo, cursam atualmente o ensino fundamental.

    9) Sua carreira profissional desmente a versão de que ex-seminarista ou vira professor de humanas ou ingressa na área jurídica. Como foi?

    R: Iniciei como professor de humanas e fui migrando de área conforme as oportunidades. Tendo me formado em Ciencias Físicas e Biológicas, Matemática e Engenharia Civil, mantive minha vida profissional ligada à educação, porém, já  na área de exatas. Trabalhei em vários colégios,  mas minha atividade principal foi com educação profissional junto ao SENAI, do Sistema FIEMG. Lá, atuei por 29 anos, tendo assumido a direção do Centro de Formação Profissional Paulo de Tarso, voltado para a Construção Civil.

    10) Como ex-diretor da Escola SENAI, qual a sua avaliação do sistema de ensino industrial oferecido por entidades patronais como FIEMG e CNI ?

    R: O sistema de ensino industrial da FIEMG, operado pelo SENAI, é parte do sistema da CNI, Confederação Nacional da Indústria, que visa suprir o mercado com profissionais qualificados nas mais diversas modalidades operacionais de que a indústria necessita. Baseado na filosofia do aprender fazendo, paralelo a um embasamento tecnológico, é, a meu ver, o mais importante e eficaz sistema de for mação profissional que  possuímos.

    11) Agora, aposentado, vai tocando algum projeto especial ?

    R: Aposentado, atuei em alguns projetos, tais como, formação e aperfeiçoamento de encarregados e mestres de construção civil, e formação de operadores de retroescavadeira. Participei da diretoria do Grupo Escoteiro e do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Nova Lima. Atualmente, junto com minha esposa Rejane, dedico-me a afazeres de casa, como, manutenção e benfeitorias, horticultura, jardinagem, fruticultura, piscicultura, gestão ambiental, cuidados com a saúde, além de apoiar nossas filhas e genros na educação dos netos. Periodicamente, realizamos algumas viagens.

     

    JD VITAL