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CAMINHANDO
Caminhar, caminhar, se não puder fazer mais nada , caminhe.
Mirando pela beirada da estrada, úmida, sem estar molhada
vou vendo a inteira caminhada da boiada, dos burros,
dos animais andarilhos solitários, de todas as idades.
Bois, vacas, bezerros, novilhos erados, touros marruados,
burros de carga, jumentos de procria, éguas, cavalos,
potrinhos e bezerrinhos, juntos ou separados,
calmos ou avexados, lentos por si mesmos,
rápidos tocados, seguindo o berrante
ou obedecendo o ferrão, seguindo o destino .
Vejo na estrada em alto e baixo relevo
os desenhos dos cascos variados
no tamanho e na profundidade,
com atenção pode-se saber quem seguia quem,
quem estourou primeiro e pulou a cerca atrás do capim.
Fico pensando que gato e cão tem tutores,
bois, vacas, bezerros, jumentos, touros, potrinhos, burrinhos
tem o que ? Acho que no máximo vão ter dono ou proprietário.
Essa coisa de tutor, tudo no amor deve ser só para os pets
ou pestes que vivem debaixo do mesmo teto de quem os tem.
A singeleza do desenho dos rastros na terra ainda úmida
lembra a simplicidade da arte e sua complexidade.
Quem ali trabalhou com os cascos nada ganhou,
todos aqueles seres estavam em busca de continuar a ser,
viver sem busca de porquês, tão somente seguindo o rumo,
o cheiro da água, do sal e do capim macio ou duro no pasto,
fêmeas mães cuidando os filhotes, machos pastoris
cheirando as fêmeas em busca do cio propício.
A vida passa para nós como uma boiada
deixando rastros variados na estrada,
mas nós entendemos de compreender quem somos,
buscamos os fins , os meios, os princípios,
queremos saber para onde estamos indo
e se possível quando vamos chegar.
Tudo isto cria alegrias adicionais,
mas também suscita ansiedade, dores,
e o pior, pode em alguns momentos
explodirem desamores e nós como bois
de maneira insana podemos ir para o estouro.
Geraldo Felix Lima
21/12/2021 Confins
 
