SOBREVIVER OU VIVER CRESCENDO - SEBASTIÃO RIOS JÚNIOR




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    SOBREVIVER OU VIVER CRESCENDO


    Viver é flores ser. Só lícito ser é encher-se de virtudes. Florescer é crescer espiritualmente e preservar a dignidade humana. Ser lícito é dispor na vida de uma conduta ilibada, marcante. E a palavra significa cumprir o sagrado dever de amar o próximo. Ter mão a se estender e afagar. Afagar na provação do outro. Estender-se com senso afetivo. Qualidades exortam a personalidade. Infelizmente, escoam-se no tempo. Quiséramos feliz voltasse a confraternização, o preocupar-se com o semelhante, a união entre pessoas.

     Lembramo-nos da Copa do Mundo aos 1950. Lá pelas nossas bandas, raro indivíduo dispunha do rádio. Solidários, todos os aficionados do futebol se irmanavam e lotavam a casa dos afortunados, a fim de assistir à partida decisiva. Assim, aquela decepcionante derrota para o Uruguai passou sem constrangimento. Converteu-se, ao final, em sentimento e consolo mútuo.

    Anjos da guarda desciam na época, surpreendentes, inesperados.  Milagres aconteciam. O ensino nas cidades menores limitava-se ao Grupo Escolar. Internação em colégios de cidades maiores constituía privilégio dos abastados. Porém, na santa humildade do lar modesto, o querubim encontrou fórmula de custear nossos estudos. Educação e respeito buscavam-se a todo custo. Hoje, nada concerne ao amigo, além do jogo de interesse. Onde “Amicus certus in re incerta cernitur”?

    Antigos guardiães quase não se manifestam. Mudaram-se em ideias conservadoras. O ambiente dominante não os acolhe. Poder, egocentrismo, ambição, turvam as cabeças. Grassam fome e miséria nas classes desamparadas. Perderam-se, em grande estilo, a lealdade, a honestidade, a gratidão. Sorte mesmo, apenas para o meliante inescrupuloso.

    Talvez frutos do crescimento, do avanço científico e tecnológico, romperam-se a tradição, a dignidade plural, as condições existenciais. Devido ao avanço progressivo e destrutivo, contemplamos sozinho o passado. Havia um enorme equipamento, também chamado holerite, gerador da folha de pagamento do servidor federal. Ocupava o saguão do velho prédio do Tesouro Nacional na Avenida Afonso Pena.

    Após, víamos chegar gigantescos computadores. Ocupavam o espaço físico: seletora e leitora de cartões perfurados, gravações de fita em roldanas giratórias, processadores em paredes inteiras, periféricos. Ao contrário dos pequenos módulos atuais, acionados por minúsculos chips, toda a parafernália prosseguia alimentada com planilhas elaboradas pelos usuários.  Obrigados, inseriam nas quadrículas as letras das palavras.

    Informações processavam-se em formulários contínuos, submetidos à consistência dos dados. Ah, sim, e também ficavam a cargo dos referidos! Diríamos: consistência da consistência.  Se correta, costumava gerar, na avaliação, outra pior. Esse fato ocorria sucessivamente. Sonhávamos com os acertos on-line hodiernos.

    Lembramo-nos, assustado. Súbito, a seletora e perfuradora de cartões cospe fora, como vento uivante, um bloco que se espalha pelo chão. Deus nos acuda para voltarmos tranquilo ao “statu quo ante”! Agonia, desespero e suor gastamos, embora significantes. Salta-nos à memória, o telefone de boca dos idos 1950, naquela caixa pendurada sobre a parede. Ocorre-nos, pensativo, o telégrafo Morse, amparado pelo rádio, nossa diversão, labor, tristeza. Sendo meios de comunicação sempre utilizáveis, custavam excesso de luta para campeadores.

    A pé, mato a dentro, eles acompanhavam e reparavam linhas telefônicas, fiação, postes caídos, aceiros inibidores de incêndios. Vieram, mais tarde, então, o telefone sem fio, os pequenos computadores, a TV em preto e branco e, posteriormente, a colorida. Assistimos à Copa do Mundo/70 numa TV de dois pavimentos, a cores. Glória e festa!

    A princípio, era penoso e oneroso possuí-los. Agora, celulares circulam lá e cá. Recebemos insistentes convites para assinatura de telefones fixos, motos, carros de custo a longo prazo, computadores a preços convidativos. Enfim, acha-se o Universo à disposição, aliviando esforço, aumentando saber.

    Entretanto, a Ciência, ai! A Ciência alia-se à tecnologia. Supera-nos expectativas, desenvolve-se em todos os setores. Por que, dessa maneira, poderá desencadear crise organizacional capaz de comprometer o destino planetário? Dispensamo-nos comentário acerca da possível gravidade. Queira Deus despertemos antes de qualquer tragédia iminente.

    Sebastião Rios Júnior