ESCRITOS HELÊNICOS - HELENO, AMIGO DESDE O AP




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  • Heleno, amigo desde o ap

    Recebi uma carta de um amigo que me dizia mais ou menos assim: “- Foi um tempo difícil. Ainda hoje, algumas vezes, acordo transtornado, com sonhos apavorantes, como se aquela realidade ainda resistisse em sair de mim. Parei de ler seu livro, Heleno, A REVOLUÇÂO do OUTRO EU, para tentar vê-lo, pessoalmente. Como antes era. Cabelos negros e longos, nem tão longos assim. Um pouco acima dos ombros. Tão diferentes dos poucos que lhe restam hoje, e da cor que já mudou completamente, não é?

     Sentia uma dor muito grande. Falar o que não podia, quase trair aquilo em que acreditava, forçado pelas surras acompanhadas de outras surras e tantos outros sofrimentos que você também sabe.. Mas o sofrimento moral e psicológico era compensado pela dor física.”

    Novamente, deixei a carta sobre a mesa e refletia. Se meu amigo Aélio bem sabe, hoje também somos impedidos de falar, em alguns grupos, até de amigos, a nossa verdade. Já estudei sobre tantas personagens que morreram ou foram  deixados em segundo, terceiro ou quinto plano por falar a verdade. Até a nossa Igreja condenava. E...á morte.

    Escrever e denunciar? Fomos testemunhas de tantos escritores que lhes calaram a boca. Jovens compositores que... Ah! Deixa pra lá!

    Como duas dores, tão diferentes, se compensam? Busquei, nos textos que atualmente escrevo uma possível explicação. É um paradoxo. E este tema me tem fascinado muito.

    “A dor física ameniza a dor moral”. Não havia ainda pensado nisso. E o meu amigo, em sua carta, abre-me a mente para filosofar tal. Eis a chave. O princípio de Causa e Efeito. Toda Causa tem seu Efeito, todo o Efeito tem a sua causa; tudo acontece de acordo com a Lei; o Acaso é simplesmente um nome dado a uma Lei não reconhecida; há muitos planos de causalidade, porém nada escapa à Lei. Já li sobre isso em “O Caibalion”. Mas, discuto tal assunto num livreco que estará pronto até março ou abril de..................... ”   

     “- É! Meu amigo! Você sabe por que lhe escrevo isso? Por que minhas dores não doeram tanto? Se elas deixaram marcas, nem importância tem. Como, bebo, danço, escrevo, rio, sorrio, gosto de samba, também, de Chopin. Brinco com meus filhos, participo de suas preocupações, passeio com minha esposa (que aguentou este cara chato até hoje). Enfim, estou aqui, conversando com meu amigo Heleno lá do AP. Você se lembra ainda do Frei Alano, lá dos Dominicanos do bairro Serra?”

    Por que ele me escrevia esta carta, não sei bem. Sei que, é costume seu, enigmaticamente, se confessar. Ou, às vezes, passar-se por psicólogo, ou como dizia minha vó: “JOGAR VERDE PRÁ COLHER MADURO”.

    “- Não estou querendo relembrar nada, Aélio!. Nada mesmo. É só para lhe dizer que você sofre mais porque a dor é só no coração. Não há contraposição. Por isso, caro amigo, você sofre o Efeito. E agora? Tem que descobrir a Causa, cara!” Ah! Mas eu bem sei!

    Tive vontade de rasgar a carta. Até porque gosto de deixar o passado no passado Mas, meu amigo me faz pensar. Examinando cuidadosamente, percebo que o acaso é simplesmente um modo de exprimir as causas obscuras; as causas que não podemos compreender. A palavra ACASO é derivada de uma palavra que significa CAIR (como a caída dos dados), dando idéia de que a caída dos dados é simplesmente um acontecimento que não tem relação com qualquer causa.

    Puxa vida! Já vou, novamente, tocando no assunto que só será revelado em março ou abril............... Sei ser chato, heim!?

    “- Vá caro amigo, passar suas férias! Entre no mar. Há muitas outras águas salgadas. O sal sempre foi remédio. Você tem de influenciar a sua própria roda.”

    Parei de ler a carta aí. Amanhã, continuo. Aliás, tenho este costume. Nunca fui mesmo muito curioso! Quem assina a carta é o meu amigo Aélio.    

     

     

     

     

    Heleno Célio Soares