• Dor

     

    Ter dor tão forte e não ter nada para a dor.

    Já imaginou ?

    Nem imagine. Tomar remédio que não se quer tomar...

    Uma dor de revirar pelo avesso.

    No início é até humilhante tomar analgésico.

    Depois de um tempo, divagando, a gente diz:

    - Ela envém, ela envém ! Está por um triz.

    - Traz logo, traz logo, a água para o comprimido.

    Cadê o comprimido ? Onde eu pus ?

    Ah! Aqui está... vai passar, vai passar...

    Passando está, passando está ...

     

    Então imagine se quiser , homem, menino , mulher

    com forte dor e também com fome, hoje ainda não comeu.

    - Oh ! Dor me mata, que assim tudo acaba, tudo acaba.

    -Oh! Deus, tenha pena de mim, misericórdia !

    - Um prato de comida para a fome e um remédio para a dor.

    O que  dói mais o estômago faminto ou um pé torcido ?

     

    E um humano ferido, num campo de refúgio,

    fugindo da casa que já não vale nada,

    virou uma bola de fogo explosiva,

    muita dor da fome e muita dor no corpo.

    Milhares de humanos, feridos, descobertos de panos,

    esfaimados, famintos, estômagos nas costas

    e costas nos estômagos.

    Milhões de  dores sem remédio, milhões de bocas sem sustento,

    dor que não vai embora em nenhum momento,

    quando uma vai a outra fica, se a outra vai a uma fica.

     

    Posso dizer sem medo de errar:

    - O mundo não é mundo, o mundo é mando !

    Mas ninguém manda acabar com a dor e a fome !

    Todos querem poder, poder, poder para que ?

    Para alcançarem mais poder.

    Pobre mundo que depende do mando

    de alguém que não se acha do mundo e nem mundano !

    Geraldo Felix Lima

    BH – 23/11/2021