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Época de Mangas
Não havia mercado onde se vendessem mangas.
Quem as quisesse tinha o trabalho de procurá-las.
Acredito que todas as crianças sabiam aonde ir.
Do jeito que nós, crianças daquela época ,
adorávamos frutas, qualquer fruta !
Sabíamos sim, onde ir.
Frente à casa do Zé Turco, no final da calçada
da rua que levava para a igreja,
ali, bem aos nossos olhos, lindos pés de manga.
Manga Coração de Boi, Manga Sapatinha, Manga Espada,
Manga Coquinho, tentação muito grande,
a gente esquecia até que na casa morava gente !
As pedras, não sei de onde tirávamos tanta pedra,
voavam; mas mesmo os bons de mira erravam
uma ou outra vez e as telhas curvas já antigas
pagavam o preço . Zé Turco, quando em casa,
saia bravo, xingando todo mundo, nós recolhiamos
as pedras no bolso e aguardávamos outra oportunidade.
Ele se assentava nos degraus da escada do Bar de Zé de Lana
em frente , ria um pouco e falava :
- Vocês estão precisando é de chicote, umas lambadas nos lombos, vocês sossegam. Quando me via , ficava rubicundo e me falava que o coro para mim era certo, que meu pai Zé Remundo ia saber que eu andava jogando
pedras nas mangas. Ali sim, a taca estala.Você vai ver , Cabeça de Juscelino. Eu me ajeitava
um pouco e ia embora com medo dele contar para o meu pai.
Quando era a esposa dele que aparecia, ela falava num português afrancesado:
- Quem quer subir nos pés para apnhar as mangas ?
Todo mundo de bico calado. Às vezes ela escolhia um dos maiores e mandava subir no pé e
apanhar as mangas. Aí era briga para escolher as melhores . No final todo mundo gritava
em coro : “Obrigado , Dona Jacqueline .”
Geraldo Felix Lima
Confins – 25/10/2021