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AGOSTO
O nome não diz a gosto de quem,
como augúrio pouco convém.
Não é mês para esponsais,
aos casais corajosos que enfrentam
a ira da incerteza, não se pode perguntar :
- Foram felizes, pouco ou demais ?
As respostas podem não ser triviais.
Não é um mês luxuriento.
Pouca ou nada chuva,
poeira em ascenção , mormaço.
Sofrem coração, pulmões, narizes e peles,
pode ser frio ventoso ou vento quente,
sem concessões; não agrada citadinos
e tão pouco aos aldeões.
Doenças viajam nos ventos
que sopram , às vezes tépidos,
às vezes frios, a secura exacerbando,
trazendo tosse seca, olhos irritados
e a não ser o aparente adormecimento vegetal,
as pessoas que trabalham , antes de se sentirem bem,
sentem-se muito mal.
Época dos cães hidrófobos, cachorros zangados,
deixa a quase todos seres em mau estado.
A nós parece , em suma , que nada se soma nem se consuma
nesta época agostina ou augustina que parece época de desarruma.
A natureza , no entanto, ao nosso contrário
acha esta época , ótima para tirar novas roupas do armário.
As árvores vão jogando com a ajuda do vento
velhas e vencidas folhas pelo chão e ficam
literalmente nuas aguardando o novo vestuário
que se anuncia, de broto em broto, com rebroto,
vão ficando de uma lindeza estóica, crua,
se engalanando para as flores, aguardando a chuva.
Vamos deixar a tristeza para lá.
Deixemos os embates dos nós somos ou dos nós temos,
contemplemos com ternura a visita das energias telúricas
recompondo a paisagem , talvez para nosso gáudio,
talvez não, mostrando a nós que somos filhos da terra,
e a ela devotados ou não, a ela devemos o que somos
e o que temos e também o que queremos poder
e o que podemos vir ou não a ter.
Geraldo Felix Lima
