ESCRITOS HELÊNICOS - "HOMO HOMINI LUPUS"




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    "Homo homini lupus" 

    (Plauto – titus maccius plautus - sec. III a.c.)

     

    Fui à minha biblioteca e alcancei Plauto. Li: “Homo homini lupus ”.

    Tenho por mim que a agressividade humana já nasce com o homem  e nele existe desde os primórdios da humanidade. Até diria ironizando, que é parte de nosso “pecado original”

     A história da humanidade é marcada por assassinatos e cadáveres apinhados, e por interesses absolutamente egoístas. Até parece que a humanidade se orgulha de ser edificada sobre os ossos de seus semelhantes. Assim, afirmo que o homem mata desde que nasceu. A história bíblica, por mais metafórica que seja, nos narra que, logo no início, Caim mata Abel. E, ao longo da leitura do Livro Sagrado, as matanças se sucedem. E de maneira absolutamente brutal. A caminhada evolutiva humana mostra-nos essa violência presente a todo momento. Certas descobertas de sítios arqueológicos demonstram que o homem assassinava seus semelhantes em escalas muitas vezes superiores às de hoje, levando-se em conta o número da população. Não faço aqui um estudo  do comportamento humano, deixo isso para sociólogos , psicólogos e afins.

    O homem sempre foi o “lobo do homem”, agressor de seus congêneres.

    Estuda-se, profundamente, que o comportamento humano possui aspectos de origem biológica e genética. Há aproximadamente 50 mil anos, o homo sapiens descobre que pode usar o cérebro para fazer arco e flechas. A agressão tão comum à espécie humana se aprimora. Chego a afirmar que fazemos parte de uma espécie altamente perigosa capaz da autofagia mais hedionda.

    Na história, encontramos milhares de fatos que  comprovam tal. Relato somente um pequeno percentual da agressividade humana, mas que deixará um indicativo de quem mata não é um regime, nem uma religião, mas essa matança está inserida no ” gens” humano.

    . As tragédias gregas, a mitologia greco-romana, nas narrações bíblicas.

    Tudo cheio de assassinatos e traições. E os livros que narram a história da humanidade estão repletos de torturas, campos de concentração, estupros, escravização dos semelhantes, violências, massacres, agressões, genocídios, execuções em massa.... Tudo fazendo parte da epopéia humana.

    . Em 1803 a 1815, deparamo-nos com as guerras napoleônicas. Entre quatro a sete milhões de mortes e, ainda, acrescentam-se suas consequências.

    . Em 1917 a 1921, a Guerra Civil Russa. Estima-se de cinco a nove milhões de mortes.

    . De 1862 a 1877, a Revolta de Dungan, China. Calcula-se de oito a doze milhões de mortos, e ... Com certeza, o resto do mundo também não estava em paz.

    . 1369 a 1405, no Oriente - Médio, Índia, Ásia Central, e Rússia. Acontecem as conquistas de Timur-e-Lang. Mais ou menos de 15 a 20 milhões de mortes.

    A palavra “conquista” sempre associada à palavra “morte”.

    . 1616 a 1662. A dinastia Ming conquista a dinastia Qing. Entre 25 a 30

    milhões de mortes, sem argumentar a pobreza, os mutilados, a devastação, enfim, as consequências advindas da guerra

    . Entre 1207 a 1472, na Europa, os mongóis. E se estendendo pela Ásia, Europa Oriental e Oriente - Médio. Entre 30 a 60 milhões de cadáveres.

    . 1914 a 1918. A primeira guerra mundial. Na Europa e se envolvendo todas as potências do mundo. Estima-se até 60 milhões de mortos.

    . Antes, na China, a Rebelião Taipoing. É difícil chegar a uma conclusão de mortos. Talvez se aproxime de 100 milhões de crânios.

    . 2ª Guerra Mundial – Possivelmente 70 milhões de mortos. Dela participam as maiores nações do mundo e ali as duas tragédias atômicas:

    - Nagazaki : Perto de 70 mil mortos.

    - Hieroshima : De 60 a 80 mil mortos. ( E as conseqüências?)

    Não estou ordenando os fatos. É só para fazer o leitor revisitar a história universal e a história da agressividade humana.

    Lemos ainda sobre as guerras Púnicas: três, entre Roma e Cartago; as execuções na Jordânia, Somália, Egito, Sudão, Iêmen, EUA, Iraque, Arábia Saudita, Irã, China, nas diversas ditaduras espalhadas pelo mundo, nas favelas e ruas das grandes cidades, como Brasil   etc, etc.   É de  arrepiar!

    . E como nos esquecermos das Cruzadas nos séculos XI a XVI e os crimes cometidos pela Inquisição?

    . É possível falar em genocídio quando nos lembramos do que aconteceu com os povos indígenas dos Estados Unidos da América. Durante o século XIX houve o massacre de milhões de índios americanos, destruindo várias culturas. Houve uma limpeza étnica no oeste americano. E isso se tornou política desse governo.

    As reservas indígenas criadas pelo governo americano eram os piores pedaços de terra, onde os índios morriam de inanição, doenças, ou  morriam nas longas marchas forçadas, inclusive velhos e crianças. Certos locais nada deviam aos campos de concentração e trabalhos forçados de Stalin ou aos campos de concentração dos EUA para aprisionar TODA a população de ascendência nipônica durante a segunda guerra mundial.

    . O massacre relacionado aos índios continua em toda a América, inclusive no Brasil.

    . E o genocídio promovido pelos ingleses contra os colonos holandeses BOERES, em 1903? Por que não é recordado?

    . E o genocídio provocado pelos alemães contra as tribos da Naníbia , em 1917? Prenúncio de algo?

    . Vamos também nos lembrar dos países ibéricos - Portugal e Espanha que, de modo irreversível, submeteram os nativos da América à conversão ao Cristianismo, logo que se inicia o projeto colonial.

    . As atrocidades contra os povos dominados foram prolongadas. A cruel matança dos indígenas, a ganância espanhola por metais preciosos. Tratados como os piores animais, morreram milhões de pessoas. Incas, Napuchos e tantas outras civilizações.

    É preciso que fiquemos conscientes do holocausto negro. A partir de 1520, cinquenta mil negros, de tempo em tempo, vinham para as Américas. O comércio escravo estava na mão dos judeus. Calcula-se que 150 milhões de mortos. O holocausto negro é com segurança o maior crime da história.

    Sugiro a leitura, dentre outras, de Der Spiegel “Escravidão; Crime do milênio”. Talvez nos ajude a entender um pouco mais. Ou ainda: De Glaudete Alves: “Negros: O Brasil nos deve milhões”.

    . Vamos ainda citar o genocídio armênio. Matança e deportação forçada de milhares. Mais de um milhão de pessoas de origem armênia, que vivia no Império Otomano. A intenção foi exterminar a presença cultural e vida econômica. Isso aconteceu nos anos de 1915 a 1917.

    E para concluir: Vê-se, aqui, somente um razoável elenco da miserabilidade humana e da agressão tão imanente no ser humano. Nem estou citando desastres na natureza, provocados pela ganância. Está aí nos jornais de cada dia, que se deliciam com essas notícias.

    E finalizando: O efeito deste texto é fazer cada um perceber que temos muito a refletir, estudar, compreender e perceber o porquê da agressão humana.

    Tem de  estudar Genética, Sociologia, Política...Enfim, a cultura científica e a cultura social, tão comumente divergentes, mas que mesmo assim, podem habitar o mesmo espaço.

    O problema da agressão humana é tão antiga quanto a existência humana.

    Eis, pois, uma proposta para se estudar e conhecer quais dispositivos cerebrais nos levam ou nos impedem de cometer agressões. E não ficar em algum lugar atirando pedras, acusando religião, sistemas políticos, etc. de serem os fundamentos de agressões.

    Heleno Célio Soares