ENTREVISTADO DO MÊS DE JANEIRO - Wagner da Cunha Lima (Wagão)
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ENTREVISTADO DO MÊS DE JANEIRO
PINGUE PONGUE COM WAGNER DA CUNHA LIMA (WAGÃO)
1 - Essa sua barba branca é homenagem a Che Guevara, ídolo da juventude de esquerda, ou a São Bento de Nórcia, pai do monaquismo ocidental e padroeiro da Europa?
Relativamente à barba, Che Guevara sempre representou para mim um espírito revolucionário e guerreiro pela sobrevivência justa do ser humano. Porém, jamais compactuei com a prática da violência para atingir seus objetivos.
Por outro lado, herdei a barba de São Bento de Nórcia, no Seminário, ao buscar uma vida pautada nos ensinamentos de Deus; procuro , outrossim, aperfeiçoar, a cada dia, uma vida espiritual de paz e justiça, visando tirar de meu corpo e dos outros o demônio que nos atormenta em nossa caminhada.
2 - Você estudou de 1961 a 1964 no Seminário, tempo quente na vida política brasileira. Conte suas lembranças do período. O golpe militar de 1964 assustou ou teve apoio na Gameleira?
Minhas lembranças do Internato Religioso são as melhores, em face da colheita que fiz; ao longo desse proveitoso tempo , conquistei novas e boas amizades que, aliás, perduram até hoje.
A chamada revolução, naquele tempo, não interferiu em nada em minha vida voltada para os estudos religiosos. Creio que para muitos colegas tenha ocorrido o mesmo, até porque não ligava para assuntos políticos, tal o meu envolvimento com os estudos ministrados naquela casa.
3 - Naquela época, já gostava de química e biologia? Onde fez faculdade?
Registre-se que, à época , com parcos recursos familiares e trabalhando no comércio, com horário apertado, consegui me inscrever no Vestibular da UFMG para o curso de Farmácia. Dada a facilidade que tinha nas matérias , fui aprovado e, em l974, concluí o curso e, com louros, modéstia à parte, usufruo até hoje dos conhecimentos adquiridos.
4 - Como farmacêutico-químico, dá para explicar a transubstanciação do pão e do vinho em corpo e sangue de Jesus? Ou a eucaristia é um mistério inexplicável?
Numa introspecção pessoal , que rogo não ser considerado um gesto ofensivo ao entrevistador, interpreto essa questão como fronteiriça de uma heresia. Até porque, como o próprio complemento da questão traz no seu contexto a resposta, entendendo que a mensagem (citação, enfoque ou outro termo ) de Jesus, quando do seu último encontro com os discípulos, mesmo o da família iscariotes , foi, é e sempre será a substantiva e abençoada transformação do suco uval contido na taça – que muitos consideram o “Graal” – e o pão, na sua própria figura.
5 - Depois que saiu do Seminário, como foi sua caminhada familiar e profissional.
À pergunta poderia responder numa simplória expressão: “Foi, na realidade, uma bruta, porém beneplácita transformação”.
Eis que, como está implícito no segundo questionamento, os passos iniciais de “Pós- Formado”, por incrível que pareça , foram difíceis , embora sabedor que caminhos outros se abririam para mim. Apesar de novo, recém-formado, a jornada não foi fácil , porém me fortaleciam os anseios de alçar vôos à vitória, ao sucesso ,ao que eu escolhera, coroando, logo a seguir, com a família.
6 - Como é seu trabalho profissional: mais ligado à pesquisa laboratorial ou à indústria? Compensa financeiramente? Ou o melhor seria dedicar-se ao magistério?
Reafirmo, como foi dito na resposta à pergunta anterior, que foi difícil, embora sem medo, enfrentar os caminhos surgidos. No diapasão de querer vencer, fui contratado , submetendo-me às diretrizes legais e laboratoriais. Trabalhei no ramo por mais de uma década, abrindo minhas pretensões, como bioquímico e farmacêutico, de me estabelecer como empreendedor da área específica até os dias atuais.
7 - Como conheceu Maria do Carmo? Fale de seus filhos.
Malgrado o teor dos questionamentos ter o enfoque na minha vida, ainda como estudante dos ensinamentos religiosos, e depois à busca de outros caminhos profissionalmente falando, a pergunta, por sua própria configuração encaixa-se muito na busca do vencer, do sucesso. Tomado que estava por desencontros cúpidos, cruza o meu caminho uma moça, uma mulher que, como um verdadeiro timoneiro, toma a condução de minha vida amorosa. Com um amor fiel, puro e profundo, fez meu barco, ainda repleto de anseios , aportar-se na satisfação e alegria pessoal , tanto na vida amorosa quanto na satisfação de meus desejos mais íntimos. Maria do Carmo, uma moça simples, de formação católica, trabalhadora, percebeu, durante o nosso relacionamento , o quanto poderia me ajudar. E como ajudou!
Maria do Carmo, uma mulher ferrenha, não deixou que nossa relação ficasse tão somente no campo do amor a dois. Vislumbrando o quanto eu queria superar aquele topo circunstancial dos meus desejos, ela foi a base para minha vitoriosa transposição. Como se não bastasse toda a ajuda dessa mulher para a vivência do nosso amor puro, alicerçado em Deus, deu-me, como presente, o que também eu desejava quando nos casamos: três filhos, sendo uma linda filha e dois belos e fortes garotos. Seguindo os ditames familiares , desde jovens nossos filhos foram o orgulho do casal. Um deles seguiu a carreira de farmacêutico, enquanto os outros tornaram-se bacharéis , sendo que a menina em Educação Física e o outro rapaz em Engenharia, formando o trio que é a consecução vitoriosa de minha família .
8 - Como participante frequente dos encontros da turma, como você define um
ex-seminarista do Coração Eucarístico
Quanto a essa questão, tenho que comentar que a reunião é benéfica, mesmo tendo cada um , “pós-seminário”, ordenado ou não, seguido o seu caminho, inclusive sequenciando os estudos, como no meu caso. A satisfação do reencontro é grande, entendendo que mesmo dentre a turma, há quem, já àquela época, como seminarista, quer por problemas particulares, quiçá até financeiros, não logrou êxito no seu intento particular, estudantil ou não.
Percebo nos encontros que a alegria é sincera, até porque , mesmo tendo passado muito tempo, os assuntos são saudáveis e remetidos àquela época, aliás, excelso tempo!
JD VITAL