- 
						 
				 
Nada
Hoje, tentei, mas não consegui
Nada escrever
Até agora.
Nem prosa, nem poema...
Minha mente teima,
Mas parece soterrada.
Não gera nada.
É qual caravela,
No mar abandonada,
Não sente leve vento,
Nem levante marrom, verde ou azul.
Mas eu preciso escrever!
Não sinto Ritmo,
Nem imagino a Forma
Aparecerem diante de meus olhos.
Quero com força grave
Descobrir sinais
Até presenças de signos.
Mas, nada!
Não consigo hoje escrever!
Não consigo apascentar palavras,
Coerentemente.
Elas estão qual boiada,
Em disparada.
Desabrocham vazias
E caem fora de mim.
Hoje não consigo escrever.
E isso dói
Dentro de mim.
As palavras têm necessidade de viajar.
Estão presas, enfim.
Elas teimam
Em andar como caracóis,
E depois se escondem dentro de si mesmas,
Como se não quisessem, se libertar.
Idiotas!
Não respondem ao meu canto.
Estão acordadas eu sei!
Mas não despertam vontade de se expressarem.
Hoje eu não consigo escrever.
Há um silêncio total,
E lá fora a festa se inclina.
Aqui, nem sinal de poesia.
Inclino-me,
Inexoravelmente
Sobre mim mesmo,
Sobre meu dorso,
E como um botão,
Fecho-me,
Na quietude inquieta,
De quem, hoje,
Não consegue escrever.
Heleno Célio Soares
 
