• Mágoa e amargura

     

    A mágoa não escorre como água,

    fica e mancha a formosura da alma

    e quando alimentada , cresce

    e seu tamanho depende de atinarmos

    para o que acontece,

    senão sai do controle e nos descontrola.

    Amortece-nos o coração e traz

    um rubor com amargura, que sobe à boca

    e nos torna amargos em todas ações diuturnas.

    Ainda nos comprime o fígado e lesa toda nossa fidalguia

    e fácil, fácil, partimos para a ira, para o estopim curto,

    nossa face pega fogo, nossas mãos se crispam

    e se Deus não nos chama, logo estamos na briga.

    Vermelhos e rubicundos vamos nos tornando

    também nauseabundos, tudo então se torna ruim,

    não há mais nada belo neste mundo.

     

    A mágoa, assim, é mãe da amargura

    que nos muda o paladar e enrubesce nossa face

    e vemos tudo num caleidoscópio atordoante

    e se ao extremo nos coloca numa prontidão sem fim.

    Nosso coração trabalha forçado, elevando a pressão,

    nossas glândulas otimizadas ficam fabricando hormônios

    preparando-nos para uma luta que não vai acontecer

    e só há uma solução para isso: parar.

    Parar e correr para um abraço amigo

    e se confortar, dar tempo ao tempo,

    deixar passar, desligar-se

    e colocar um torrão de açúcar no coração

    e se necessário beber a cântaros a água do perdão.

     

    Geraldo Felix Lima

    06/07/2021