FELIX SCRIPTA - LIBERDADE AINDA QUE TARDE SEJA




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  •                                        Liberdade ainda que tarde seja

    Nesta estrada vicinal ancoro meu sonho de liberdade.

    Nesta época obtusa em que todos querem ter razão.

    Exerço diariamente minha liberdade de dizer não.

    A minha liberdade é para meu bem e de mais ninguém.

    Todos os dias a exerço,sem perguntar, se posso ou se me convém.

    Com uma companhia de primeira hora, a minha doce senhora.

    Vou pela estrada vou, encantando os meus passos e meus braços.

    No ritmo que meu coração peça no dia, posso rezar ou imaginar poesia.

    Vejo as árvores deslumbrantes, ora verdes ora multicoloridas, dando poesia à vida.

    Encontro raro com vizinhos pode acontecer, eles geralmente sem máscaras nas caras.

    Nós , por nosso lado, mascarados como bois amilscarados.

    Procuro não pensar no tempo e nem medi-lo, já me tornei um ser sem idade.

    Vou lépido, certeiro, alguns passos mais ligeiro que meu bem.

    Ela não busca me reter, nem me retém, vai também no ritmo que lhe convém.

    Árvores múltiplas, tortuosas, retilíneas, frondosas ou esmirradas enfeitam esta estrada.

    Bela estrada, quase sempre do bem, mas recebe lixo que não lhe convém.

    Se a estrada pudesse e tivesse força, certamente recusaria, mas ela parece fria,

    no entanto quando a chuva lhe ajuda ela se desgruda de tanta porcaria,

    e os entulhos rodando vão atulhando os pastos e os matos mais afastados.

    Nem glória, nem ignomínia, não há sinonímia capaz de descrever, como aos poucos

    a natureza vai se encolher, humilde , resoluta até desaparecer.

    Ah, ano perdido ! Ah, ano dolorido ! Ano de guerras fratricidas ! Ano de narrativas escandidas !

    Quem vai vencer, quem vencerá, certamente a Deus não alcançará, nem B, nem A !

    A estrada vicinal continuará a nos dar a medida adequada de nossas vidas, sem pestanejar.

    Ela nos diz a cada dia que mundo há além do lá, no acá do aquém, onde vivem todos e ninguém !

    A estrada vicinal me diz bem, ter bons vizinhos é um bom milagre, mas não se pode sempre

    do pacote romper o lacre, e o conteúdo, nem sempre sabemos se nos convém !

    As fotos tiradas todos os dias nos dão mensagens do ciclo da vida,

    um dia folhas verdes, vívidas, noutro dia esmaecidas, amarelas ou secas,

    já no chão completando a estação do ano e a marcha do destino da natureza

    e do destino humano.

    Todos querem ser ou se acham donos dos seus pedaços, de terra, de estrada,

    de vida e se dão a liberdade de vida de ir lixando por onde passam,

    deixando rastros de suas mazelas mais escondidas,

    os entulhos de construções distantes, despachos de encruzilhadas,

    preservativos dos coitos furtivos e a natureza, como fará ?

    A natureza fará o que lhe pedem :

    -Resolva !

    Resolverá ! Usando os rios para lançar de volta contra os incautos

    seu lixo que pensam terem deixado no mato ou na estrada quase abandonada !

    A nossa bela, indefectível, linda , maravilhosa estrada de todos os dias da pandemia !

    Geraldo Felix Lima