ESCRITOS HELÊNICOS - JUNHO E ALEGRIA




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    Junho e alegria

     

    “Balão vai subindo,

    Vem caindo a garoa,

    O céu é tão lindo,

    A noite é tão boa.

    São João! São João!

    Acende a fogueira

    Do meu coração...”

    O som da canção me inebriava quando, de repente, vi-me em minha infância. O mês era junho e um fino e frio vento cortava as verdes e acolhedoras montanhas da terra em que nasci. A canção, no coração e na garganta da meninada feliz, ecoava nas escolas, grupos infantis, ruas de paralelepípedos ou de chão batido, quintais, lá onde a tradição mantinha vivas as brincadeiras em homenagem aos santos João, Pedro e Antônio. As estrelas, de quebra, piscavam para nós, enquanto arriscávamos piscadelas sorrateiras para as meninas de vestidos amplos e rodados, de chita, flanela, enfeitados com babados, laços, tiras bordadas e rendas que não podiam faltar. Na cabeça, o chapéu de palha, cabelos com tranças ou maria-chiquinha e uma maquiagem forte e colorida e pronto.

    Em meio à animada música, o casamento na roça, a quadrilha, a lua cheia no céu, canjica, rapadura, busca-pés, bandeirolas, pipoca, quadrilha de novo, tudo de especial para que nossa alegria fosse, naquele momento, eterna.

    - Que faz você aqui, Conae?

    - Quieto! Nem fale u meu nome. Dá azá. É só quandu terminá as promessa aos pé da fuguêra é qui pode fala os nomi da gente. Aí sim! Explode claridade lá nas altura e nas alma da gente. Aí, Marcel, todo mundo grita o seu próprio nome e a sorte vem cheganu...

    Entre o crepitar vermelho das fogueiras e o fogo nos corações dos meninos em busca de namoradas, eles também surgiam, com suas roupas especiais e prontas para o “mata-pé”. Calças velhas, dobradas na bainha, costuradas com retalhos e remendos de algodão. Lá estavam também o Lucas, o Rafael... Lenço no pescoço, palha no bolso, paletós justos, bigodinhos e costeletas a carvão.

    A alegria era tão grande que só se viam sorrisos. A sanfona tocava sem parar e Ana Carolina cantava e gritava:

    “- Pôe o Santo Antonho, na panela de feijão quente, pra Elisa e o Tiago se casá!”

    O bailão velho continuava cada vez mais novo. O pandeiro do Seu Tarcísio, a paçoca de amendoim, a branquinha, o milho verde, o churrasquinho, o quentão e as reverências dos moços pretendentes.

    A tarde se deitou...

    O tempo passou...

    O pensamento,

    Nas asas pesadas,

    Para aqui,

    Hoje voltou.

    Lambadas, “reggae”, passos de aeróbica, “country music”, roupas de butiques, de caubóis, perfume francês. Ah! Longíssimo tempo da inocência caipira de minha terra.

    De qualquer jeito, no entanto, a alegria é presente na tradição portuguesa com seus contornos modernos. Sem fogueira, sem balões, mas com canjica, batata doce e tudo mais. A quadrilha continua com alguns termos franceses que os portugueses trouxeram para cá: “Balancé, anarrié, anavan, tout...” e a alegria que nunca morreu.

    O toque da emoção das festas juninas da cidade está ainda na piscadela, na fuga para as festinhas, tão sempre as mesmas, na descontração muito maior que sua magia traz.

    A festa junina de ontem e de hoje, do interior e da cidade tem ainda em comum o gosto pelo diferente que une corações. E vejam aí, tão sorridentes, tão espontâneos, tão... e como sorriem, como falam, como cantam, como estão felizes.

    Bás noite, Aline, Márcia, Felipe Rezende, Vanessa, Luís Flávio e Rosemary!

    Bás noite, Mauro, Leninha. Bás noite, Marielle, Sérgio Rodrigo...

    Bás noite,....

    É a festa mais linda,

    Talvez amada...não sei.

    Mas sei que essas horas

    De tradição festejadas

    Se engalam em coro

    E fazem gritar meu coração.

    “São João! São João!

    Acende a fogueira

    Do meu coração”.

    Heleno Célio Soares