FELIX SCRIPTA - GENERAL SEM EXÉRCITO




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  • General sem exército

     

    O general longe de casa,

    longe de sua cancha,

    fora de sua prancha.

    Longe de seus navios,

    sem os  amigos auriverdes.

    Longe de suas dragonas,

    sem suas botonas,

    sem suas botinas.

    Com seu sapato bico fino,

    sem fardas de camuflagem,

    sem seus exercícios espartanos,

    com seus mil panos

    a cada hora trocados,

    borra-se de medo

    de um juiz castelão.

    Em meio a suas alfaias,

    vida em tiras e retalhos

    estampada na mídia londrina,

    Pensa ser ou ter sido,

    sorte ou sina,

    ser e  ter sido o que foi

    e o que é.

    Ainda se pensa iluminado,

    sente-se predestinado,

    um enviado de Deus.

    Furor patriótico

    em idade provecta

    desalinha o seu pensar,

    entorpece seu andar.

    Não pensa em preferências:

    ¨” não tive escolhas “

    Os inimigos,não meus, os do meu país,

    não me deram chances.

    Olhos fechados

    atrás do esquerdo antebraço:

    “não, não; eu não quero ver”.

    Pés decepados,

    orelhas cortadas, violados ventres,

    obuses largados, mesas desarrumadas,

    choro de crianças na noite abandonadas,

    de viúvas sem pensão,

    de viúvos desaparecidos,

    de vovós órfãs,

    cafés da manhã interrompidos,

    ceias sem sobremesa,

    sobremesas sem licores,

    interrompidos amores.

    Escolas de carrascos,

    carrascos nas escolas,

    assassinos nos estádios,

    jogos sem regra,

    jogos sem juiz,

    galhos e folhas arrancados

    à raiz.

    E o general brame.

    “Por que ? Para que ?”

    - Para o bem do país!

    Repete a si mesmo:

    para o bem do país

    para o bem do país !

    Repete a si mesmo

    para o bem do país

    repete  a si mesmo

    tautologicamente

    para o bem do país.

    O general entre suas alfaias,

    fora de sua raiz.

    Geraldo Felix Lima.