- 
						 
				 
General sem exército
O general longe de casa,
longe de sua cancha,
fora de sua prancha.
Longe de seus navios,
sem os amigos auriverdes.
Longe de suas dragonas,
sem suas botonas,
sem suas botinas.
Com seu sapato bico fino,
sem fardas de camuflagem,
sem seus exercícios espartanos,
com seus mil panos
a cada hora trocados,
borra-se de medo
de um juiz castelão.
Em meio a suas alfaias,
vida em tiras e retalhos
estampada na mídia londrina,
Pensa ser ou ter sido,
sorte ou sina,
ser e ter sido o que foi
e o que é.
Ainda se pensa iluminado,
sente-se predestinado,
um enviado de Deus.
Furor patriótico
em idade provecta
desalinha o seu pensar,
entorpece seu andar.
Não pensa em preferências:
¨” não tive escolhas “
Os inimigos,não meus, os do meu país,
não me deram chances.
Olhos fechados
atrás do esquerdo antebraço:
“não, não; eu não quero ver”.
Pés decepados,
orelhas cortadas, violados ventres,
obuses largados, mesas desarrumadas,
choro de crianças na noite abandonadas,
de viúvas sem pensão,
de viúvos desaparecidos,
de vovós órfãs,
cafés da manhã interrompidos,
ceias sem sobremesa,
sobremesas sem licores,
interrompidos amores.
Escolas de carrascos,
carrascos nas escolas,
assassinos nos estádios,
jogos sem regra,
jogos sem juiz,
galhos e folhas arrancados
à raiz.
E o general brame.
“Por que ? Para que ?”
- Para o bem do país!
Repete a si mesmo:
para o bem do país
para o bem do país !
Repete a si mesmo
para o bem do país
repete a si mesmo
tautologicamente
para o bem do país.
O general entre suas alfaias,
fora de sua raiz.
Geraldo Felix Lima.
 
