A VOZ DO PASTOR - ESTÃO ABERTAS AS PORTAS DA MISERICÓRDIA




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    ESTÃO ABERTAS AS PORTAS DA MISERICÓRDIA

     

    No mesmo dia de sua Ressurreição, Jesus se apressou em manifestar-se aos seus

    discípulos. O amor toma logo a iniciativa, indo ao encontro daquele grupo de homens

    muito amados e ao mesmo tempo inseguros, cuja firmeza só poderá vir do grande

    presente que o Senhor estava para dar-lhes, o sopro do Espírito Santo. Passam-se os

    séculos e a porta da misericórdia continua aberta para todos. A Oitava da Páscoa se

    conclui com a Festa da Misericórdia, quando testemunhamos o Senhor soprando sobre

    seus discípulos, confiando-lhes o serviço da misericórdia e do perdão, a ser

    exercido no correr dos séculos.

     

     

    Muitos séculos depois, São João Paulo II, que escreveu uma excelente Encíclica sobre

    a misericórdia e instituiu esta festa a ser comemorada a cada ano no segundo Domingo

    da Páscoa, voou para o Céu no cair da tarde que a precede. Agora, tendo sido chamado

    para junto de Deus na manhã da segunda-feira de Páscoa, celebram-se os funerais do

    grande Papa Francisco, no mesmo sábado! Coincidências? Não! Providência amorosa de

    Deus, no amor ao Papa e à Igreja. Somos chamados a entregar juntos ao Céu o presente

    que foram estes quase treze anos de Pontificado do Papa Francisco. Ele deixa marcas

    preciosas na Igreja e no mundo!

     

     

    Podemos pensar um pouco de longe, na repercussão havida no mundo inteiro! Santo

    orgulho temos os cristãos católicos ao afirmar, com clareza, que nossa época não

    possui um outro líder do porte do Papa Francisco. Sua presença corajosa diante das

    autoridades mundiais, a graça especial que a Providência nos concedeu de o Estado da

    Cidade do Vaticano ser independente, dando a liberdade para manifestar-se, em

    primeiro lugar na voz do Papa, em todas as questões que dizem respeito à paz, à

    justiça, ao justo equilíbrio entre as nações e, mais ainda, quanto à dignidade

    humana, especialmente dos mais pobres e de todos os oprimidos da terra.

     

     

    Seu Pontificado abriu as portas da Igreja e sensibilizou o mundo para a ecologia e o

    grande desafio das mudanças climáticas. A Encíclica Laudato Si e a Exortação

    Apostólica Laudate Deum marcaram época e se tornaram referências permanentes para os

    assuntos que agora são tratados e cujas soluções são buscadas por todo o mundo,

    especialmente nos meses que nos separam da COP 30, a ser celebrada em nossa cidade

    de Belém.

     

     

    Na perspectiva do mandato apostólico que lhe foi entregue, repetiu com insistência

    que deveríamos ser uma “Igreja em saída”. Espalhou-se pelo mundo sua proposta de que

    a Igreja é como um “Hospital de Campanha”, para acolher todos aqueles que de alguma

    forma estão feridos e machucados. Basta lembrar que nos primeiros meses de seu

    Pontificado, visitando Lampedusa, deu o tom de sua atenção às urgências sociais,

    como a migração, as periferias das cidades e da sociedade, a superação da chaga da

    guerra, infelizmente existente em vários pontos da terra. Por onde passou, deixou

    marcas de solidariedade para com os mais pobres, suscitando a exigência de continuar

    no mesmo rastro por ele deixado. Como a Igreja é sempre passível de crescimento e

    reforma, ficam para todos nós as exigências da fraternidade a ser desenvolvida, como

    nos ensinou na Encíclica “Fratelli tutti”.

     

     

    E podemos penetrar pelos umbrais das portas da Igreja, que desejou estarem sempre

    abertas! Em seu coração, a participação de todos, homens e mulheres, o espírito

    sinodal do qual não podemos mais fugir, com o envolvimento orante, fiel à Palavra de

    Deus e decidido a discernir o que o Espírito Santo diz às Igrejas. Se acompanhamos a

    liturgia por ele presidida, encontraremos fidelidade irretocável, com simplicidade e

    dignidade, homilias profundas, breves e tocantes. Quantas delas nos serviram de

    referência para pregar ao Povo de Deus! E uma paixão acompanhou o seu Pontificado, a

    verdade, buscada e anunciada junto com a caridade, sem passar as mãos na cabeça de

    ninguém, incomodando e desacomodando positivamente a todos nós cristãos, ao indicar

    a meta a ser alcançada. Pareceu-nos nos últimos meses aplicadas ao Papa palavras de

    São Paulo: “A minha expectativa e esperança é de que não vou perder a causa, em

    qualquer hipótese. Pelo contrário, conservarei toda a minha segurança e, como

    sempre, também agora Cristo será engrandecido no meu corpo, quer eu escape da morte,

    quer não. Para mim, de fato, o viver é Cristo e o morrer, lucro. Ora, se,

    continuando na vida corporal, eu posso produzir um trabalho fecundo, então já não

    sei o que escolher. Estou num grande dilema: por um lado, desejo ardentemente partir

    para estar com Cristo – o que para mim é muito melhor –; por outro lado, parece mais

    necessário para o vosso bem que eu continue a viver neste mundo. Certo disto, sei

    que vou permanecer e continuar convosco, para o vosso progresso e alegria da fé” (Fl

    1,20-25).

     

     

    A diversidade das vocações o levou a propor orientações seguras e firmes para a

    formação dos ministros da Igreja, com coragem para corrigir e ao mesmo tempo

    estimular ao crescimento de cada pessoa chamada a uma especial forma de consagração

    ao Senhor. Os Bispos, os Presbíteros e Diáconos o sentiram como voz potente e

    exigente, para serem modelos do rebanho.

     

     

    Enfim, “Miserando atque eligendo - Olhou-o com misericórdia e o escolheu” foi o seu

    lema. Espalhou misericórdia por onde passou, desejou ir aos recantos mais

    desafiadores da humanidade e do coração das pessoas, Nós o vimos declarando-se

    pecador, como todos o somos, e se deixou fotografar ajoelhado num confessionário da

    Basílica de São Pedro, com o também acolheu pecadores para o Sacramento da

    Reconciliação, anualmente foi a presídios romanos para o lava-pés da Quinta-feira

    Santa, e proclamou a necessidade de não condenar as pessoas, mas oferecer a todos a

    riqueza da misericórdia de Deus.

     

     

    Como sabemos que “todo dom precioso e toda dádiva perfeita vêm descendo do Pai das

    luzes, que desconhece fases e períodos de sombra, e que de livre vontade ele nos

    gerou, pela Palavra da verdade, a fim de sermos como que as primícias de suas

    criaturas” (cf. Tg 1,17-18), de verdade, somos felizes, sabendo que o Céu abriu-lhe

    as portas na Segunda-feira de Páscoa e pôde levar a humanidade consigo, amado e

    respeitado, homem das Dores e das Alegrias, e nós o entregamos com alegria e não com

    lamentações. Celebrou seu próprio Jubileu, como peregrino de Esperança, chegando à

    Casa do Pai.

     

    DOM ALBERTO TAVEIRA CORRÊA

    ARCEBISPO METROPOLITANO DE BELÉM/PARÁ

    FONTE: www.arquidiocesedebelem.org.br